ASSINE
search button

Chega de extermínio: Candelária 21 anos

Compartilhar

Na noite de 23 de julho de 1993, pouco antes da meia-noite, moradores de rua estavam dormindo nos redores da Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro. Dois carros com placas cobertas estacionaram ao lado dos moradores de rua e iniciaram uma sequência de tiros contra dezenas de pessoas, a maioria crianças e adolescentes, que estavam ali dormindo. 

O resultado desta ação foi o extermínio de oito jovens, seis menores idade e dois maiores idade. Vários adultos, adolescentes e crianças ficaram feridos. Eram mais de 40 pessoas. Há 21 anos, o “Movimento Candelária Nunca Mais!”, comprometido com a defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, realiza atividades para colocar à tona a criminalização da pobreza e o racismo presente no extermínio de nossas crianças e jovens em todo o território nacional. 

Não podemos deixar de citar que os responsáveis pela Chacina da Candelária são policiais ou ex-policiais. A falida e ainda assim implantada política de segurança pública é catastrófica. Para o deputado federal Jorge Bittar, “a luta contra a criminalização da pobreza e a discriminação racial no Brasil continua presente. Ainda acompanhamos muitas barbaridades como o recente assassinato de um adolescente de 14 anos no morro do Sumaré. Esse fato que faz parte do cotidiano da atuação dos policiais demonstra que ainda temos uma policia formada nos moldes da época da ditadura militar e não e uma policia que seja de fato cidadã.”

O caso citado acima faz referência aos policiais militares Fábio Magalhães Ferreira e Vinícius Lima Vieira, que foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio e ocultação do cadáver de um menor. O caso ocorrido no dia 11 de junho ganhou repercussão após a divulgação das imagens da câmera do carro da PM, que mostraram como agiram os policiais no dia do crime.

A violência nas grandes metrópoles é resultado de uma ineficiência da política de segurança pública no Brasil. Uma das pautas que podem levar a diminuição da violência está ligada a qualidade de vida população. 

A ligação da chacina da Candelária com o extermínio de mais um adolescente está sim na figura do assassino, o policial. Mas é importante analisar que ambos os casos se relacionam com um indivíduo que tem a rua como moradia. A Central do Brasil, no Centro no Rio de Janeiro, tem uma das maiores populações de rua da América Latina. 

Segundo Jorge Bittar, “um dos aspectos importantes para um trabalho de atenção às populações de rua é a oferta de moradia. "Desde que fui secretário de Habitação, que luto para que seja implantado, através do programa minha casa minha vida, um sistema de locação social desenvolvido nas áreas centrais da cidade, nas quais se concentra a maior parte das populações de rua.”

Não podemos nos calar quando a pobreza é criminalizada pela polícia e pelo programa de segurança pública vigente. A pauta da segurança está atrelada à moradia, educação, saúde, cultura, lazer, entretenimento, mobilidade, emprego e tantas outras necessidades que temos que reivindicar para termos o mínimo de dignidade. Precisamos ir além, temos direito de viver e viver com garantias e direitos.  

* Walmyr Júnior é professor. Integra a Pastoral da Juventude e trabalha na Pastoral Universitária da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.