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“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1)

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É com essa iluminação bíblica que a Campanha da Fraternidade desse ano de 2014 chama atenção para o crime da prática do tráfico humano. Vivemos um tempo onde a estrutura mecanizada, enferrujada e corrosiva da política de segurança não se compromete com os mais variados crimes que estão ligados a essa temática. Essa estrutura, que de certa forma se dá em uma dimensão global, se organiza de forma injusta e desigual, instrumentalizando homens e mulheres, que são jogados no abismo da morte do lucro desmedido. 

Julgar esses crimes e discrimina-los é permitir que a sociedade discuta os mais cruéis atos contra inocentes, como no caso das vítimas do tráfico humano. Temos como exemplo a exploração, compra e venda de homens e mulheres, para o trafico de órgãos, para a prostituição e para o serviço escravo. Não é apenas mais um dano colateral do sistema econômico atual, os seus mecanismos são perversos e escondem verdadeiras formas de idolatria, principalmente ao dinheiro.

É justamente na idolatria ao dinheiro que se encontra a origem do tráfico humano: “A raiz e todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6,10).  Somente a ganância do homem constitui o amor ao dinheiro e explica por que o tráfico de pessoas é uma das atividades criminosa mais lucrativa no mundo.

Utilizar da pratica econômica para fazer com que pessoas sejam uma mera mercadoria é a violação máxima dos direitos humanos. Essa Temática da Campanha da Fraternidade nos chama a refletir sobre ao desprezo que se tem com o valor da vida humana. 

Precisamos exigir a promoção da dignidade integral do homem e da mulher. Os valores éticos e morais que perpassam pela mensagem do Cristo Libertador, nos remetem a uma praxis que também deve ser libertadora. A Igreja nos chama a ir em missão, mas não é possível fazer missão se não somos engajados ao enfrentamento de crimes de lesa humanidade, como o tráfico humano.

Fica como reflexão o seguinte trecho da encíclica Novo millennioineunte(n. 50-51)

“Tantos irmãos necessitados estão à espera de ajuda, tantos oprimidos esperam por justiça, tantos desempregados à espera de trabalho, tantos povos esperam por respeito. E como é possível que ainda haja, no nosso tempo, quem morra de fome, quem esteja condenado ao analfabetismo, quem viva privado dos cuidados médicos mais elementares, quem não tenha uma casa onde abrigar-se? [...] E como ficar indiferentes [...] frente ao vilipêndio dos direitos humanos fundamentais de tantas pessoas, especialmente das crianças?”

Já passou da hora de lutarmos por Justiça social e direitos humanos, precisamos ver o amor como forma operativa e orientadora da ação.Converter o dinheiro em critério supremo é negar a Deus e desprezar o próximo: “Portanto, mortificai os vossos membros, isto é, o que em vós pertence à terra: (...) especialmente a ganância, que é uma idolatria” (Cl 3,5s)

* Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.