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Felicidade é coisa séria!

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Estou cansado de ouvir as pessoas reclamando de tudo. Dizem por aí que a vida não está valendo a pena, que não conseguem receber amor de sua família, que os amigos lhes abandonaram, que seu time de futebol não joga bem, etc. Tudo vem dando errado. Tenho a impressão de que  os homens e as mulheres  estão mais distantes de si mesmos, reclamando demais e agradecendo de menos. Com maior ou menos intensidade, todos nós já escutamos ou assistimos a estas histórias e até idealizamos a sua realização em nossas vidas. 

Segundo Hegel, somos seres em constantes transformações. E fico me questionando sobre em que estamos nos transformando? Ou ainda, estamos dando margem para o individualismo transformar nossas vidas? 

Neste ultimo domingo, a Igreja Católica em sua liturgia fez a reflexão em cima de uma sequência de parábolas. Na narrativa de Lucas 15, vimos as seguintes provocações: a ovelha perdida e reencontrada (vv. 4-7), a moeda perdida e reencontrada (vv. 8-10) e a do filho que retorna ao abraço misericordioso do pai. (vv. 11-32).

“Perder”, “reencontrar” e "voltar" são nas histórias de Jesus  um caminho para entender o sentido da vida humana. Nas três parábolas predominam o sentimento de alegria. É uma alegria imensa, transbordante, em clima de festa. Imagina você encontrar aquele dinheiro perdido? Encontrar uma ovelha que tinha fugido do seu rebanho e se perdeu? E o filho, que depois de sair da sua casa volta e é acolhido com uma festa pelo seu pai? 

Refletir sobre nossas vidas é importante para ter respostas para nossas dúvida, e  essas parábolas nos ajudam a respondê-las.   Estas três parábolas são as respostas de Jesus para os escribas e fariseus daquela época, mas também para os jovens, idosos, crianças e adultos de nossos tempos. 

Na parábola do pai misericordioso, a atitude do pai que acolhe o filho mais novo com festa  se contrasta com a atitude de raiva e de murmuração do filho mais velho.  Parece que Jesus queria identificar a atitude do filho mais velho e comparar com as nossas atitudes. O filho mais velho é convidado a entrar no coração compassivo do pai, assim como nós, que somos convidados a entrar em uma dinâmica de reconciliação com a nossa vida, e nela ser feliz. É preciso festejar e alegrar-nos, porque  como diz o texto “teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado”. 

Bom, se o homem e a mulher nasceram para serem felizes, e se relacionar é a única forma de alcançar essa felicidade, por que não aproveitar o dom da vida da melhor forma? Por que ainda o individualismo nos distancia tanto dos outros e também de nós mesmos?

Se nada no mundo é estático, tudo está em constante processo (vir-a-ser), concluamos que somos seres inacabados. Devemos estar abertos ao outro, para continuar nos transformando. Hegel quer nos dizer que a partir das nossas contradições conseguimos olhar para nossos passos dados, e possivelmente vamos olhar também para os passos que vamos ainda dar. Assim vamos reescrevendo nossas histórias, e com a provocação do “somos e não somos”, tranquilamente vamos pontuando aquilo que de fato nos faz feliz. 

Assim como somos chamados a olhar para nossos passos, temos que também olhar para aqueles passos que são dados em nossa volta. A dialética é isso. Os encontros e desencontros que fazem a história se movimentar, nos coloca em movimento para sermos felizes. 

* Walmyr Júnior é graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ