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A Copa já não é a mesma

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São Petersburgo - Nunca cobri in loco uma Copa do Mundo dos chamados tempos românticos.

A primeira em que estive, na Espanha, em 1982, já tinha João Havelange na presidência da Fifa, e já havia acontecido a Copa na Argentina, sob sanguinária e infame ditadura. Lá não fui e agradeço.

As Copas de 1982, na Espanha; e 1986, no México, tinham mais cara de festa do que de competição, embora a concorrência fosse para valer e não faltassem os dramas, como os vividos pela seleção brasileira no estádio Sarriá, em Barcelona, e pela inglesa, com o gol com a mão de Deus de Diego Maradona, para citar apenas dois.

Os encontros entre os jornalistas após o trabalho eram memoráveis, e as Copas iam muito além do futebol.

Alguma coisa se perdeu com a inclusão cada vez mais forte do futebol na indústria do entretenimento.

Os jogos parecem vitrines, os estádios são todos iguais por dentro, a uniformização levou à pasteurização e, é claro, o jogo mudou.

Se antes a Coreia do Norte era capaz de aprontar uma zebra para cima da então bicampeã mundial Itália, como aconteceu em 1966, na Inglaterra, e eliminá-la, a façanha era cantada em prosa e verso por meses, às vezes por anos.

Hoje, a Islândia empata com a Argentina e o feito dura poucas horas, porque logo o México vence a Alemanha e a Inglaterra sofre para ganhar da Tunísia, como a França suou para derrotar a Austrália e aí, por óbvio, fazemos nós um drama pelo empate com os suíços embora o mundo inteiro tenha visto como um resultado normal.

Veja que não se trata de nenhum saudosismo. Apenas registro que cobri Copas com João Saldanha; com Alberto Dines; com João Ubaldo Ribeiro; Zózimo Barroso do Amaral; Sérgio Cabral, o pai; Alberto Helena Jr.; Carlos Maranhão; Clóvis Rossi; Janio de Freitas; Carlos Heitor Cony; Matinas Suzuki; Tostão; Luis Fernando Verissimo; José Trajano; e, melhor que os jogos, eram as conversas antes, durante e depois deles.

Porque havia graça, não gracinha. Havia a inteligência do talento. Ok, admito, agora caí no saudosismo.

Mas como não ter saudades do Saldanha, do Dines, do João Ubaldo, do Barrozinho? E mesmo dos vivos que não vieram? Sobrou o Maranhão, ele em Moscou e eu na estonteante São Petersburgo, que já se chamou Leningrado. Sim, tudo realmente muda.