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Grécia deixa para trás os planos de ajuda, mas não as reformas

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A Grécia encerra oficialmente nesta segunda-feira o último dos rígidos planos de resgate que regulamentam sua economia desde 2010, mas ainda não acabou com a austeridade e as reformas.

"Pela primeira vez desde o início de 2010, a Grécia está de pé por si só", afirmou em um comunicado Mário Centeno, o presidente do conselho de ministros do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEDE) que dirigiu o último plano de ajuda à Grécia.

Centeno, que também é ministro das Finanças de Portugal e preside o Eurogrupo, considera que o fim do resgate é resultado do "esforço extraordinário do povo grego, da boa cooperação com o atual governo grego e dos esforços dos sócios europeus", que concederam empréstimos a Atenas.

"A economia, a sociedade e todo o país entram agora em uma nova fase", declarou nesta segunda-feira o porta-voz do governo, Dimitris Tzanakopoulos.

Ele disse ainda que o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras se dirigirá ao povo grego na terça-feira, "no primeiro dia da saída do programa".

Depois de Portugal, Irlanda, Espanha e Chipre, a Grécia era o último país da zona do euro que permanecia sob o programa de assistência instaurado durante a crise.

Em três planos sucessivos (2010, 2012 e 2015), a Grécia recebeu 289 bilhões de euros em empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI), da União Europeia (UE) e do Banco Central Europeu (BCE). Mas em troca, o país teve que adotar reformas duras, que alguns de seus credores criticam agora e que fizeram a nação perder 25% de seu PIB em oito anos, além de ter levado o desemprego ao índice de 27,5% em 2013.

"Isto demorou mais do que o previsto, mas acredito que é suficiente. A economia grega voltou a crescer (+1,4% em 2014), há superávit orçamentário e o desemprego cai com regularidade", declarou Centeno, embora o índice de pessoas sem emprego continue em 20%.

"O tempo da austeridade terminou, mas o fim do programa não é o fim do caminho das reformas", avisou o comissário europeu de Assuntos Financeiros, Pierre Moscovici.

Moscovici saudou, no entanto, a "jornada histórica" da Grécia, "que poderá financiar-se sozinha nos mercados e definir sua própria política econômica desde que prossiga com as reformas".

- Mercados -

Uma opinião compartilhada pelo diretor do Banco Central da Grécia, Yannis Stournaras. "A Grécia ainda tem um longo caminho a percorrer", declarou, no domingo, em uma entrevista ao jornal Kathimerini, na qual se mostrou preocupado com a possibilidade de que os mercados deem as costas para seu país si este não seguir adiante com suas reformas.

Depois que seus sócios europeus concederam a Atenas, em junho, uma ampliação do prazo para pagar sua dívida, a Grécia considera que suas necessidades de financiamento estão cobertas até 2022, o que permitirá ao país acudir aos mercados apenas nos momentos mais favoráveis.

Mas sua dívida continua em 180% de seu PIB, e o FMI considera isso insustentável em longo prazo.

O governo grego insiste que suas necessidades de financiamento se manterão abaixo do limite crítico de 20% do PIB recomendado pela UE.

"A dívida grega não apenas não é insustentável, como também altamente sustentável", garantiu um funcionário do país.

- Asfixia -

O primeiro-ministro Alexis Tsipras, líder do partido de esquerda radical Syriza, chegou ao poder em janeiro de 2015 e sempre governo com planos de resgate financeiro. Depois teve, inclusive, de aceitar novas reformas até 2019 e 2020, apesar de indicar, em junho, que queria instaurar mais "justiça social" a partir de então.

Na Grécia, a melhoria dos dados macroeconômicos não se transferiu para a vida cotidiana dos habitantes.

"Os planos de ajuda terminaram, mas continuam as correntes e a asfixia", escreveu no domingo o jornal opositor To Vima.

Economistas como como Nikos Vettas consideram imperativo gerar agora um crescimento forte. Caso contrário, "os lares, que já estão muito debilitados depois de dez anos de recessão, continuarão sofrendo".

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