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Itália se despede das vítimas da ponta que desabou em Gênova

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A Itália ofereceu neste sábado uma despedida sóbria e solene às vítimas do desabamento da ponte de Gênova, em um funeral de Estado boicotado por metade das famílias dos 38 mortos confirmados, enquanto equipes de resgate anunciaram a descoberta de novos corpos entre os escombros.

O balanço do drama é agora de 40 mortos confirmados - após a morte de um ferido romano e o corpo encontrado de um operário genovês nos escombros . Três outras mortes ainda estão poden ser confirmadas: um casal de Turim e sua filha de 9 anos. O veículo da família foi encontrado nesta manhã esmagado por um bloco de cimento.

Não há outros desaparecidos oficiais, mas os bombeiros asseguraram que continuarão trabalhando nas buscas.

A solene cerimônia católica durou pouco mais de uma hora em um grande salão do centro de exposições de Gênova, na presença dos mais altos funcionários do Estado e milhares de habitantes desta cidade portuária do noroeste da Itália.

Longos aplausos se seguiram à leitura dos nomes dos 38 mortos identificados e a menção das vítimas ainda não identificadas.

Os bombeiros italianos encontraram durante a madrugada mais corpos em um carro esmagado sob um bloco de concreto da ponte de Gênova.

Os serviços de Defesa Civil não quiseram informar o número preciso, mas a imprensa italiana fala de um casal e uma menina de 9 anos, que se encontravam em um dos carros que caíram com o desabamento da ponte.

Dessa forma, ainda só estaria desparecido um homem de cerca de 30 anos.

O governo decretou luto nacional para este sábado, e as bandeiras dos prédios públicos foram colocadas a meio mastro e os monumentos nacionais - como o Coliseu, a Fontana de Trevi e a Praça do Capitólio de Roma - ficarão com suas luzes apagadas.

A liga italiana de futebol, que celebra neste fim de semana sua primeira rodada do campeonato 2018/19, suspendeu as partidas que seriam disputadas pelas duas equipes de Gênova, a Sampdoria e a Genoa. Em todos os estádios, será respeito um minuto de silêncio e os jogadores usarão uma braçadeira preta em sinal de luto.

- "Allah Akbar" -

No imenso salão de Gênova, transformado em capela ardente, foram alinhados 19 caixões, incluindo um menor, branco, com o corpo de Samuele, um menino de 8 anos que morreu junto aos pais quando iam pegar um ferry para a Sardenha.

"Eu perdi um amigo, mas vim por causa de todas as vítimas", disse um morador de Gênova, Nunzio Angone.

Metade das famílias das vítimas optou por funerais privados depois de acusar as autoridades estaduais de serem responsáveis pela catástrofe.

Durante a cerimônia católica, um imã fez uma oração cantada na qual se ouviu quatro vezes as palavras "Allah akbar" (Deus é grande) em meio a um silêncio respeitoso, em um momento planejado para homenagear duas vítimas muçulmanas albanesas.

O presidente Sergio Mattarella se mostrou muito emocionado durante a cerimônia. "É uma tragédia inaceitável", declarou à televisão, prometendo realizar "investigações rápidas e rigorosas que levem a condenações dos responsáveis".

"Meu filho foi assassinado", repetiu Roberto, pai de um dos quatro jovens de Nápoles que morreu enquanto viajava de férias.

"Não se deve morrer pela negligência, pela irresponsabilidade, pela superficialidade, pela burocracia", insistiu o arcebispo de Nápoles, cardeal Crescenzio Sepe, na homilia de sexta-feira dedicada a esses quatro jovens de sua cidade de origem.

As fotos das vítimas sorridentes foram publicadas neste sábado em todos os jornais italianos: um ex-campeão de motociclismo, um médico e uma enfermeira que iam se casar, jovens franceses que iam se divertir, três chilenos morando na Itália, um motorista de caminhão napolitano que retornava para casa depois de fazer uma entrega na França e um casal voltando de sua lua de mel.

- Meio milhão -

O governo anunciou na sexta-feira que havia iniciado o procedimento para revogar a concessão da firma Autostrade no trecho onde a ponte desmoronou.

Em relação às informações segundo as quais a empresa concessionária estaria disposta a reconstruir a ponte, assumindo o custo, o chefe de governo, Giuseppe Conte, disse que o executivo avaliará a proposta caso se torne formal.

Conte também planeja controlar rigorosamente os investimentos das concessionárias de autoestradas no futuro, que "devem entender que a infraestrutura não é uma receita financeira, mas um bem público".

"Faremos todo o possível para que a Autostrade ajude os parentes das vítimas, as pessoas afetadas, os que ficaram sem lar e a cidade", disse o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, também ministro do Interior e Líder da Liga (extrema direita).

Em uma coletiva de imprensa em Gênova, os dirigentes da Autostrade não quiseram comentar esta decisão, mas prometeram "500 milhões de euros disponíveis a partir de segunda-feira" para ajudar a cidade e as vítimas.

Essa quantidade compreende "milhões de euros" para as famílias das vítimas, e um fundo com "dezenas de milhões de euros" administrado por Gênova para realocar os habitantes cujas moradias foram destruídas sob a ponte.

Também inclui um projeto de demolição do que restou da ponte e de reconstrução de outra em aço "em oito meses", quando as autoridades derem aval ao projeto.

Os dirigentes prometeram ajudar à justiça que esclarecerão as causas do acidente, sobre as quais não puderam oferecer uma explicação imediata.