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Encontro entre Putin e Trump é quarta cúpula entre EUA e Rússia realizada em Helsinque

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HELSINQUE - O encontro entre Vladimir Putin e Donald Trump é a quarta cúpula entre Estados Unidos e Rússia realizada na capital finlandesa em mais de quatro décadas, após as reuniões Ford-Brejnev (1975), Bush-Gorbachev (1990) e Clinton-Yeltsin (1997). Mas, desta vez, a situação é muito diferente: a URSS é coisa do passado, o presidente americano está perdendo a simpatia dos aliados europeus e a Finlândia nunca se mostrou tão próxima dos americanos e da Otan.

O encontro entre os chefes de Estado, um dia depois da final do Mundial da Rússia, tem por objetivo reanimar relações mais deterioradas do que nunca. De São Petersburgo, antiga capital dos czares, até Helsinque, que no passado foi um verdadeiro ninho de espiões, a viagem de avião demora apenas uma hora, assim como dos países bálticos, que são membros da Otan. 

Por várias ocasiões a cidade foi um terreno neutro, no qual os dirigentes americanos e soviéticos - antes dos russos - restabeleceram suas relações. “A Finlândia oferecia uma boa função durante a Guerra Fria, sua neutralidade consistia em traçar pontes entre o oriente e o ocidente nas relações entre as grandes potências”, diz para a Agência AFP Teija Tiilikainen, diretora do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais. Na capital finlandesa foram assinados, em 1º de agosto de 1975, os acordos de Helsinque, que, para muitos, contribuíram para a política de distensão entre EUA e URSS, assinados por Gerald Ford e Leonid Brejnev. 

O texto determinava que as grandes potências respeitassem as fronteiras de 1945, tal como Roosevelt, Stalin e Churchill traçaram na Conferência de Yalta. Também fazia referência, pela primeira vez, aos direitos humanos, uma crítica a Moscou, cujas prisões estavam repletas de dissidentes. Em 1990, um ano antes da queda do bloco soviético, a Finlândia organizou a última cúpula URSS-EUA, com os presidentes Mikhail Gorbachev e George Bush. 

“A Finlândia, por rejeitar a lógica de blocos mundiais, desempenhou papel importante na distensão”, diz uma fonte diplomática à AFP. O último grande encontro entre um presidente russo e um americano em Helsinque foi em 1997, com Boris Yeltsin e Bill Clinton. A reunião terminou com vários avanços, como o controle de armamento e a abertura da Otan aos antigos satélites soviéticos. 

A Finlândia pertenceu à Suécia durante seis séculos, até 1809. Depois, foi um grande ducado russo, conquistando a independência em 1917. Na Segunda Guerra, teve que enfrentar o Exército Vermelho no inverno de 1939-1940 e entre junho de 1941 e setembro de 1944. Por isso, após definitivamente libertada do jugo soviético, evitou despertar o urso russo. Os dirigentes finlandeses se recusaram a realizar qualquer tipo de crítica pública durante a Guerra Fria, posição controvertida e definida como “finlandização”.

Mas depois da queda da URSS, o país se apressou em virar na direção do Ocidente e, em 1995, aderiu à União Europeia. Não chegou ao ponto de se unir à Otan, mas passou a fazer parte de sua Associação para a Paz em 1994. No entanto, a Finlândia não pode cortar os laços com seu poderoso vizinho russo - com quem compartilha 1.340 km de fronteira -, além de ser seu quinto sócio comercial. 

“Atualmente, a Finlândia mantém relações boas com a Rússia e estreitas relações com os EUA, mais próximas que no passado”, diz Juhana Aunesluoma, diretor do centro de estudos europeus da Universidade de Helsinque. Neste sentido, o papel do presidente Sauli Niinistö é fundamental. Foi um dos primeiros a felicitar Donald Trump por sua eleição como presidente em 2016 e incluiu Vladimir Putin nas celebrações do centenário da independência.