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Diretor da Opaq defende proibição de armas químicas

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O diretor em fim de mandato da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), Ahmet Uzumcu, pediu aos governantes que não sacrifiquem um século de esforços para libertar o mundo dessas armas tóxicas por interesses políticos em curto prazo.

Em uma entrevista à AFP poucos dias antes de sua partida e enquanto seus especialistas estão no Reino Unido para investigar um suposto ataque com agentes neurotóxicos, Uzumcu pediu aos Estados-membros da Opaq que superem suas divisões.

"A comunidade internacional precisou de mais de 100 anos para chegar a este ponto" na luta contra as armas químicas, lembrou.

"Realmente seria uma pena que fôssemos vítimas de interesses políticos em curto prazo", declarou Uzumcu, que será substituído pelo diplomata espanhol Fernando Arias.

Ao todo, 193 países aderiram à Convenção sobre as Armas Químicas, e 96% das armas químicas declaradas foram destruídas. Os 4% restantes estão nos Estados Unidos e deveriam ser destruídas antes de 2023.

Embora até agora a Opaq fosse discreta, nos últimos anos a guerra na Síria levou seus inspetores a fazerem 85 investigações, 14 das quais permitiram demonstrar que usaram armas deste tipo.

"Tivemos que nos reestruturar, revisar as prioridades do nosso trabalho. Tivemos que preparar e formar nossa equipe para ir à Síria, às zonas de conflito", explicou.

Em um relatório provisório, os especialistas descartaram o uso de gás sarin em um ataque que deixou 40 civis mortos em uma cidade síria, embora ainda estejam analisando se o cloro foi usado.

Segundo Uzumcu, as equipes da Opaq são motivadas pelo "sentido do dever".

"Para eles, trata-se de contribuir para uma causa nobre, proibir as armas químicas, evitando seu uso e que haja feridos", assegura.

Mas hoje a organização está dividida pelos desacordos de seus membros, em particular entre os países ocidentais e a Rússia, principal aliado da Síria.

"Espero que essa divisão entre os Estados-membros acabe logo e estejam novamente reunidos como até agora", afirmou, advertindo para a evolução das armas químicas.

Desde o mês passado, a organização com sede em Haia está habilitada para assinalar os países que usam armas químicas, um passo histórico para a Opaq.

"A responsabilidade é enorme" e supõe o primeiro passo para levar os responsáveis à Justiça, destacou Uzumcu.

Desde domingo, um grupo de investigadores da Opaq está no Reino Unido para pegar amostras de Dawn Sturgess, mulher que faleceu em 8 de julho.

Junto com seu parceiro, Charlie Rowley, que segue no hospital, Sturgess pode ter sido exposta ao mesmo agente que foi usado em março em Salisbury contra um ex-espião russo e sua filha.

Preocupado com o caso, o diretor da Opaq reuniu um grupo de trabalho para conhecer melhor este agente tóxico (Novichok, segundo o Reino Unido), mas tão pouco frequente que sequer aparece nos arquivos da organização internacional.