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Centenário da execução do último czar é recordado por 100 mil pessoas

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Uma procissão reuniu quase 100.000 pessoas nesta terça-feira (17) em Ecaterimburgo (Urais), para comemorar o centenário da execução pelos bolcheviques do último czar Nicolau II e de sua família, após a abdicação.

O líder da poderosa Igreja Ortodoxa, o patriarca Cirilo, guiou a procissão a pé. Começou às 2h locais, no lugar onde aconteceu o assassinato, em Ecaterimburgo, e terminou no mosteiro de Ganina Yama, a 21 quilômetros dali.

Quase 20.000 pessoas se uniram às comemorações nesse mosteiro, erguido no lugar onde foram enterrados o último czar e sua família após serem executados.

Os participantes carregavam cruzes ortodoxas, ícones e retratos da família imperial.

"Oramos pelo czar e Imperador Nicolau, um mártir. Oramos por aqueles que sofreram com ele", declarou o patriarca Cirilo à multidão.

"A Rússia deve aprender a lição dessa experiência difícil e amarga", assegurou.

"Devemos realmente resistir a toda ideia, ou dirigente, que nos proponha - através da destruição da nossa vida, das nossas tradições e da nossa fé - adotar um suposto novo futuro desconhecido e feliz", acrescentou.

- Queda de braço -

Os bolcheviques fuzilaram Nicolaus II, a czarina Alexandra e seus cinco filhos na madrugada de 17 de julho de 1918, pondo fim a 300 anos de dinastia dos Romanov à frente do império russo.

A família imperial foi canonizada em 2000 pela Igreja Ortodoxa russa e, em 2008, o Tribunal Supremo da Rússia a reabilitou, considerando-a vítima da repressão política bolchevique.

O Estado russo preferiu não comemorar o centenário da morte, apontou Ksenia Lutchenko, especialista da Igreja Ortodoxa russa.

O assassinato de Nicolau II e de sua família "não pode ser usado no quadro da educação patriótica, porque foram fuzilados por membros da Tchéka", ancestral da KGB, da qual o presidente russo Vladimir Putin foi oficial, explica ela.

Os restos mortais de Nicolau II, de sua mulher e de três de seus filhos foram encontrados em 1979 e enterrados na Fortaleza de Pedro e Paulo de São Petersburgo, em 1998, após uma cerimônia conduzida pelo patriarca da época.

Vinte anos após a exumação, a Igreja Ortodoxa continua a se negar a reconhecer a autenticidade dos corpos.

Já os corpos dos dois filhos restantes, Alexei e Maria, supostamente encontrados em 2007, ainda não foram enterrados por falta de acordo entre as autoridades e a Igreja.

Segundo a Igreja, os bolcheviques queimaram sem deixar traços os corpos das onze vítimas em um fosso numa floresta nos Urais, perto do monastério Ganina Iama.

- Novos testes de DNA -

Por ocasião do centenário da morte do czar, a Igreja poderia considerar um funeral religioso: novos testes de DNA confirmaram na segunda-feira a autenticidade dos restos mortais da família imperial.

O clero examinará "cuidadosamente" esses resultados, indicou o porta-voz da igreja, Vladimir Legoïda, elogiando a "atmosfera de transparência" em que a investigação foi conduzida pelas autoridades russas.

A investigação foi reaberta em 2015 e ainda está em andamento.

"A data das comemorações e a oportunidade de reconhecer (a autenticidade dos restos mortais) já passou: nada impede a Igreja de adiar essa decisão por anos", diz Lushenko.

"Mas faz anos que o Estado quer acabar com essa história e enterrar todos os filhos de Nicolau II perto de seus pais", diz ela. "Há sinais de que o governo está perdendo a paciência", acrescenta.

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