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Após final de semana violento, fóruns internacionais examinam crise na Nicarágua

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Depois de um violento fim de semana que deixou 12 mortos na Nicarágua, a comunidade internacional começou a debater nesta segunda-feira (16) a situação no país e a repressão dos protestos que há três meses exigem a saída do poder do presidente de esquerda Daniel Ortega.

Enquanto isso, centenas de estudantes marcharam nesta segunda na capital para exigir justiça pelas 280 pessoas mortas pelas mãos das forças do governo.

"O governo impôs uma política de terror, mas iremos até o fim pelos mortos. Ortega não pode continuar governando", disse à AFP Axel Munguía, estudante de 20 anos, durante a manifestação em Manágua. "A luta é nas ruas, não vamos voltar às aulas enquanto este homem terrorista, genocida continuar no poder", afirmou Juliana Munguía, estudante de Psicologia.

No sábado, 200 estudantes conseguiram sair de um cerco de 20 horas das forças do governo na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN), em Manágua, e de um templo próximo, em uma ação que deixou dois alunos mortos: Gerald e Francisco.

"Sempre estarão em nossos corações", expressaram os estudantes no protesto, que terminou em frente à temida prisão El Chipote, onde exigiram a libertação dos jovens detidos ilegalmente nas marchas.

No domingo, policiais e paramilitares arremeteram contra Masaya (sul) e comunidades vizinhas para remover os bloqueios de estradas dos manifestantes contra o governo, operação que deixou 10 mortos, segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH).

A vice-presidente e primeira-dama, Rosario Murillo, assegurou nesta segunda-feira que o governo atua para libertar o território dos bloqueios de estradas e "restaurar a paz".

Assinalou que os protestos respondem a "um plano terrorista e golpista acompanhado por uma infame e falsa campanha midiática nacional e internacional. Esse golpe que quis impor uma minoria cheia de ódio, essa minoria sinistra, maligna, mas que não conseguiram e nem conseguirão".

Inicialmente, as reivindicações eram contra uma reforma do sistema de aposentadorias, que o governo deixou sem efeito, mas derivaram em uma demanda para a saída do poder de Ortega, que governa desde 2007 pelo terceiro mandato consecutivo.

A oposição o acusa de instaurar uma ditadura e pede para antecipar para março as eleições presidenciais de 2021.

No domingo, as forças do governo retiraram com violência os bloqueios que os opositores tinham em Masaya e em outros povoados do sul do país.

- Agenda internacional -

Afundada na violência e sem saídas à vista, a crise da Nicarágua será discutida em fóruns internacionais, como a reunião de chanceleres da União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), que iniciou em Bruxelas nesta segunda-feira.

Nesta segunda-feira, a França condenou os ataques executados nos últimos dias pelas forças da polícia e paramilitares contra responsáveis religiosos e manifestantes nicaraguenses, e advogou pela retomada do diálogo com a oposição.

O embaixador americano na Organização dos Estados Americanos (OEA), Carlos Trujillo, por sua vez, adiantou que a questão da Nicarágua voltaria esta semana à agenda do fórum continental.

"A violenta repressão do governo com o uso de turbas sandinistas é inaceitável. Os Estados Unidos ficarão responsáveis pelos violadores de direitos humanos", comentou Trujillo no Twitter.

Enquanto isso, o presidente costa-riquenho, Carlos Alvarado, adiantou que a crise na Nicarágua estará presente em suas discussões com o secretário-geral da ONU, António Guterres, com quem se reunirá nesta segunda-feira em San José.