ASSINE
search button

Erdogan é reeleito presidente da Turquia para mandato com poderes reforçados

Compartilhar

O chefe de Estado turco, Recep Tayyip Erdogan, foi reeleito no primeiro turno, neste domingo (24), para um novo mandato com poderes reforçados, impondo-se a uma oposição unida nestas eleições presidenciais e legislativas, muito disputadas.

"O presidente Recep Tayyip Erdogan obteve a maioria absoluta dos votos válidos", declarou o diretor do Alto Comitê Eleitoral (YSK), Sadi Güven, a jornalistas em Ancara.

Segundo a agência estatal de notícias Anadolu, Erdogan liderou as presidenciais com 52,5% dos votos, apurados mais de 99% dos votos, e a aliança dominada por seu partido, o islamita-conservador AKP, obteve 53,61% dos votos nas legislativas.

Erdogan, no poder há 15 anos, não esperou o anúncio da comissão eleitoral para reivindicar a vitória. "Nossa nação me confiou a responsabilidade de [ser] presidente da República", declarou Erdogan em Istambul, antes do encerramento da apuração.

As eleições deste domingo são especialmente importantes porque representam a passagem do atual sistema parlamentar para um regime presidencial no qual o chefe de Estado concentra a totalidade do poder Executivo, como foi decidido em um referendo no ano passado.

- Gritos de alegria -

Seu principal adversário, o social-democrata Muharrem Ince, ficou na segunda posição das presidenciais, com 30,7% dos votos, e a aliança "anti-Erdogan", formada por vários partidos de oposição para as legislativas, obteria 34%, segundo resultados parciais divulgados pela Anadolu.

Ince não deu declarações sobre os resultados da noite deste domingo e convocou uma coletiva de imprensa para o meio-dia de segunda-feira, horário de Ancara (6h, horário de Brasília).

Milhares de simpatizantes de Erdogan se concentraram à noite nos arredores da residência do presidente em Istambul, cantando e agitando bandeiras.

A declaração do chefe do YSK, retransmitida por um telão, foi recebida com gritos de alegria na sede do AKP em Ancara, onde uma multidão aguardava a chegada de Erdogan, vindo de Istambul.

"Tínhamos 100% de certeza de que venceríamos, Erdogan é nosso campeão", disse Handan Boztoy, que foi com a filha comemorar a "vitória".

"Os resultados não vão mudar, estes últimos 16 anos Erdogan sempre venceu. Estamos com ele como nação", declarou.

Desde que o AKP chegou ao poder em 2002, Erdogan destacou-se como o dirigente turco mais poderoso depois do fundador da república, Mustafa Kemal, transformando o país com megaprojetos de infraestrutura e reformas sociais, e liberando a expressão religiosa.

"A vitória de Erdogan é incontestavelmente uma demonstração de sua grande popularidade junto ao eleitorado turco, em particular o eleitorado conservador nas regiões rurais de Anatólia, e o símbolo de sua resiliência frente a uma oposição unida", avaliou Jana Jabbour, doutora associada do CERI/Sciences Po de Paris e especialista em Turquia.

Seus críticos acusam o "rais", de 64 anos, de seguir uma orientação autocrática, particularmente desde a tentativa de golpe de julho de 2016, que foi seguida de uma onda de repressão sem piedade contra opositores e jornalistas e tensionou as relações entre Ancara e o Ocidente.

O dirigente pensava ter todas as cartas na manga, ao convocar estas eleições durante o estado de emergência e mais de um ano antes da data prevista, mas a degradação da situação econômica e uma ascensão inesperada da oposição o pegaram de surpresa durante a campanha.

- Partido pró-curdo no Parlamento -

Vendo nestas eleições a última chance para socavar a busca do presidente por um poder incontestável, partidos tão diferentes quanto o CHP (social-democrata), Iyi (nacionalista) e Saadet (islamita) formaram uma aliança "anti-Erdogan" inédita para as eleições legislativas com o apoio do HDP (pró-curdo).

Ince, um deputado habilidoso, se impôs como o principal rival de Erdogan nas presidenciais e conseguiu mobilizar centenas de milhares de simpatizantes em comícios gigantescos.

Erdogan apresenta o novo sistema presidencial, ao qual chegará como algo necessário para dotar a Turquia de um Executivo forte e estável, mas seus adversários políticos o acusam de querer monopolizar o poder com uma medida que suprime a função do primeiro-ministro e permite ao presidente governar por decreto.

O candidato do partido pró-curdo HDP, Selahattin Demirtas, que rivalizou em outra época com Erdogan nos palanques, teve que fazer campanha da cadeia, onde está em prisão preventiva desde 2016, acusado de atividades "terroristas".

Segundo os resultados parciais, Demirtas obteve quase 8% dos votos e seu partido superou a barreira dos 10% em nível nacional, permitindo-lhe ter representação no Parlamento.

Durante a votação houve forte boatos de fraude, sobretudo no sudeste, de maioria curda. Os opositores, que mobilizaram um exército de observadores, denunciaram irregularidades, especialmente na província de Sanliurfa.