O diálogo para pacificar a Nicarágua após dois meses de protestos que deixaram 180 mortos agonizava nesta segunda-feira, com a oposição vinculando sua participação à presença de organismos internacionais de direitos humanos.
A Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia abandonou as mesas de trabalho após acusar o governo de ignorar o acordo para convidar organismos internacionais para as investigações sobre à repressão violenta aos protestos.
O diálogo acontece no seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Manágua, e nesta segunda-feira foi marcado pela morte de seis membros de uma família em um ataque atribuído a paramilitares ligados ao governo do presidente Daniel Ortega.
Nesta terça-feira "nos reincorporaremos ao plenário do diálogo nacional e exigiremos o cumprimento do que foi acertado como condição indispensável para se prosseguir", declarou a Aliança em um comunicado.
O líder estudantil Lesther Alemán revelou que durante mais de uma hora se pediu ao governo a carta que deveria enviar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e à União Europeia (UE), e "como não a apresentaram, nos levantamos" da mesa.
O chanceler Denis Moncada, chefe da delegação oficial, justificou a ausência do convite aos organismos internacionais por razões "burocráticas", disse o acadêmico Carlos Tünnerman, delegado da sociedade civil no diálogo.
"Vá a seu gabinete, redija as cartas, mande os convites e traga as cópias para o plenário do diálogo nesta terça-feira", disse Tünnerman a Moncada.
Após a suspensão do encontro, o governo emitiu uma declaração na qual negou a repressão aos protestos e manifestou sua "gravíssima preocupação pela trágica escalada da violência que sofre o povo nicaraguense".
Na declaração, o governo afirma que propôs à oposição "trabalhar para se alcançar acordos verificáveis de segurança, paz e reconciliação nos municípios e departamentos da Nicarágua", mas não cita a questão do convite aos organismos internacionais dos direitos humanos.
Nesta segunda-feira estava previsto a discussão do levantamento dos bloqueios nas estradas, a antecipação das eleições para março e a reformulação do Poder Judiciário.
Tunnerman destacou que o governo não cumpre com o acertado no diálogo porque se comprometeu aplicar 15 recomendações da CIDH, incluindo o fim da repressão e o desarmamento dos grupos civis armados e "não fez nada".
"Precisamos que estes organismos estejam no país como garantia" do que foi acertado e que acabe a violência contra a população, disse a dirigente do Movimento de Mulheres, Azhalia Solís.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, condenou durante na sessão do Conselho de Direitos Humanos em Genebra a violência na Nicarágua, e pediu ao governo que cumpra os compromissos firmados na sexta-feira.
Os protestos contra a reforma da Previdência provocaram uma onda de manifestações e repressão que já deixaram 180 mortos e mais de mil feridos nos últimos dois meses, segundo o Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (Cenidh).