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Iván Duque e Gustavo Petro vão disputar segundo turno na Colômbia

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O candidato da direita, Iván Duque, e o ex-guerrilheiro Gustavo Petro se enfrentarão no segundo turno para definir quem será o novo presidente da Colômbia, apuradas mais de 99% das urnas após as eleições deste domingo (27).

O senador Duque, afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), tinha 39,11% dos votos, enquanto Petro, ex-prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro da dissolvida guerrilha M-19, hoje partido político, tinha 25,10%, após a apuração de 99,19% das urnas, segundo a autoridade eleitoral.

O governador de centro Sergio Fajardo ficou em terceiro lugar, com 23,77% dos votos.

O segundo turno será celebrado em 17 de junho.

A Colômbia foi às urnas para eleger o primeiro presidente que governará sem a ameaça guerrilheira das Farc em meio século, em um inédito duelo Duque, representante da direita conservadora, e Petro, da esquerda radical.

As seções abriram às 8h locais (10h em Brasília) e fecharam às 16h de Bogotá (18h) e a votação transcorreu em "plena normalidade", segundo a autoridade eleitoral. Em cidades como Bogotá viu-se grande mobilização de eleitores.

Paradoxalmente, o acordo de paz com as Farc, outrora grupo rebelde mais poderoso da América, hoje transformado em partido político, dividiu os eleitores deste país de 49 milhões de habitantes.

Duque, de 41 anos, defensor de valores tradicionais e da redução de impostos; e Petro, de 58, que promete profundas reformas econômicas, entre elas a taxação da terra improdutiva, despontavam como favoritos.

"Quero um país de legalidade, de luta frontal contra a corrupção, um país onde se respire segurança em todo território. Quero um país de empreendimento", afirmou Duque, ao votar em Bogotá.

Já Petro defendeu "um presente e um futuro" sem ódio nem vingança, que deixe para trás "o maquinário da corrupção".

Até uma semana atrás, limite dado por lei para a publicação de sondagens, nenhuma pesquisa antecipava uma definição em primeiro turno.

O acordo que está no centro das divisões permitiu que estas fossem eleições seguras. Juntamente com as legislativas de março, nas quais a direita conservadora venceu, este foi o primeiro pleito "sem a ameaça do conflito armado" com as Farc, destacou o presidente Juan Manuel Santos.

- Polarização -

O fim de meio século de conflito com os rebeldes marxistas pôs sobre a mesa preocupações como a corrupção, a desaceleração econômica, o serviço de saúde e o retorno do tráfico, que castiga as fronteiras com a Venezuela e o Equador.

O pacto com o agora partido Força Alternativa Revolucionária do Comum - que retirou seu candidato da corrida presidencial por problemas de saúde - operou, porém, como um divisor de águas.

"A Colômbia está polarizada desde antes das eleições. A polarização ficou evidente nas campanhas pelo 'sim' e pelo 'não' do plebiscito" pela paz, afirma Andrés Macías, pesquisador da Universidade Externado.

Embora os opositores do acordo tenham vencido por uma estreita margem, Santos levou adiante o pacto que desarmou, no ano passado, cerca de 7.000 combatentes. Ainda falta, contudo, implementar o sistema de justiça que garanta "verdade e reparação" a milhões de vítimas. Outra pendência envolve as reformas rurais, que poderiam evitar o reativamento do conflito.

Rodrigo Londoño ("Timochenko"), o presidenciável da Farc que retirou sua candidatura, votou no sul de Bogotá, segundo disse, pela primeira vez em sua vida.

Herdeiro político do ex-presidente Álvaro Uribe, Duque promete modificar o pacto de paz de 2016 para impedir que os rebeldes que já entregaram as armas e estão envolvidos em crimes atrozes possam atuar na política sem antes cumprir um mínimo de tempo na prisão.

Petro, que militou nos anos 1980 no extinto movimento M-19, pretende honrar os compromissos que garantem que os ex-líderes guerrilheiros recebam penas alternativas à prisão, se confessarem seus crimes, e indenizarem as centenas de milhares de vítimas de um conflito que também contou com a participação de paramilitares de ultradireita e de agentes do Estado.

Também disputaram as eleições o candidato independente de centro Sergio Fajardo e o ex-vice-presidente Germán Vargas, o ex-negociador de paz com as Farc Humberto de la Calle e o evangélico Jorge Trujillo.

Nenhum candidato reivindicou as bandeiras de Santos, que deixará o poder em agosto, após dois mandatos de quatro anos marcados pela baixa popularidade.

- Preocupação venezuelana -

Nesse contexto, o fluxo migratório resultante da crise na Venezuela ganhou espaço. Nos últimos dois anos, entraram no país 762.000 venezuelanos, dos quais 518.000 pretende se instalar no território.

Bogotá, que prevê aderir à aliança militar da Otan para desgosto de Caracas, que o considera uma ameaça, praticamente não tem relações com o governo reeleito de Nicolás Maduro.

Nessa briga, Petro ganhou força e conseguiu cerrar fileiras com seu discurso antissistema, a favor do meio ambiente, das minorias e de uma economia independente do petróleo.

Candidato do movimento Colômbia Humana, o ex-prefeito da capital resgatou a praça pública para a esquerda, realizando multitudinários comícios.

"Foi um prefeito (de Bogotá) que ajudou os pobres e os idosos", disse Gladys Cortés, uma empregada doméstica de 60 anos que votou em Petro após anos sem ir às urnas.

"Aqui, essas reformas são consideradas extremistas, porque vivemos em um feudalismo bastante manchado pelo narcotráfico", disse Petro à AFP.

Já Duque batalhou para não parecer um "fantoche" de Uribe, embora tenha a mesma agenda: investimento privado, Estado austero e valores familiares tradicionais. Também propõe "recuperar a economia, eliminando o desperdício", mediante uma reforma para reduzir o funcionalismo público.

"O que me estimula é manter a ordem no país", afirmou Paula Rubio, de 38, após votar no candidato de direita.

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