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Itália vive crise política sem precedentes

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A Itália mergulhou, neste domingo (27), em uma crise política sem precedentes, após o fracasso da formação de um governo de coalizão entre o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E) e a Liga (extrema direita), devido ao veto do presidente Sergio Mattarella ao eurocético Paolo Savona para assumir a pasta da Economia.

Trata-se de um enfrentamento entre dois partidos com o presidente da República, garantidor da estabilidade política do país.

Após semanas de negociações, o M5E e a Liga, os dois partidos mais votados nas eleições de 4 de março, chegaram a um audacioso acordo político e à formação de um Executivo, que o presidente Mattarella acabou não aceitando neste domingo.

Encarregado na quarta-feira por Mattarella de formar um governo, o advogado e acadêmico Giuseppe Conte, de 53 anos, um total desconhecido simpatizante do M5E, renunciou ao cargo de premiê quatro dias depois de ser nomeado, ao final de uma reunião de quase uma hora no palácio do Quirinal, sede da Presidência.

A decisão foi tomada depois da queda de braço entre os partidos populistas e o presidente Mattarella pela indicação de Savona à pasta da Economia e Finanças, um economista de 81 anos, conhecido por suas posições contra o euro, o que gerou alarme e preocupação nos mercados financeiros e nas autoridades da União Europeia (UE).

As duas partes não chegaram a um acordo sobre o Executivo e, em particular, sobre o candidato a chefiar a terceira economia da zona do euro.

"É inútil votar na Itália. Os governos são decididos pelos lobbies financeiros", reagiu Luigi Di Maio, líder do M5E.

"Somos um país com uma soberania limitada", protestou o líder da Liga, Matteo Salvini.

Em mensagem oficial, o presidente Mattarella explicou ter pedido como candidato para a estratégica pasta da Economia um expoente político e não "um defensor da saída da Itália do euro", pois "isso põe em risco a poupança dos italianos", destacou.

"O chefe de Estado não pode sofrer imposições", disse.

Segundo o ordenamento político do país, é atribuição do presidente da República da Itália aprovar a lista de ministros.

Mattarella anunciou que prepara uma proposta de governo para as próximas horas e que não se exclui a convocação de novas eleições.

O presidente convocou o economista Carlo Cottarelli, por décadas um conhecido funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI), chamado de homem "tesoura" por cortar contas públicas, que poderia ser encarregado na segunda-feira de liderar um governo técnico como saída para a crise.

- A ira dos antissistema -

Mattarella, ex-magistrado da Corte Constitucional e parlamentar da Democracia Cristã por anos, negou-se a ceder às pressões dos dois partidos antissistema.

"A nomeação do ministro da Economia é uma mensagem imediata de confiança ou alarme para os operadores econômicos e financeiros", explicou à imprensa.

"Solicitei para esta pasta um representante político da maioria, que cumprisse com o acordo de governo (...) e não alguém que apoiasse a saída da Itália do euro", afirmou.

A oposição de Mattarella a Savona gerou uma onda de indignação e é possível que alimente o clima de críticas à União Europeia e à Alemanha como países que se opuseram à vontade dos cidadãos.

O líder dos indignados anunciou que pedirá ao Parlamento o impeachment de Mattarella por violar o artigo 90 da Constituição, isto é, por "alta traição", ao vender a Itália aos interesses de potências estrangeiras.

"Aqui quem governa são as agências de classificação, os lobbies financeiros, os bancos, os de sempre", voltou a clamar Di Maio em mensagem de vídeo.

"Queríamos eliminar a lei de pensões e dar dignidade ao trabalho; também baixar os impostos, que é o contrário do que querem em Bruxelas. Também frear uma invasão de imigrantes", disparou Salvini, abrindo de fato a campanha eleitoral.

kv/pa/mvv