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Panorama incerto na Nicarágua sem diálogo e ainda com protestos nas ruas

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A Nicarágua vive nesta quinta-feira (24) um panorama incerto após a suspensão do diálogo nacional por falta de consenso entre as partes, enquanto estudantes e moradores vão às ruas pedir justiça e democratização.

As conversas entre o governo e a oposição entraram na quarta-feira em um impasse, depois que a mediação dos bispos católicos não conseguiu aproximar posições para avançar na discussão, centrada na proposta de antecipar as eleições para encurtar o mandato do presidente Daniel Ortega.

O governo, por sua vez, quer liberar as estradas bloqueadas por camponeses e manifestantes em vários pontos do país.

Após a suspensão do diálogo houve ataques de grupos afins a Ortega nas cidades de León, Chinandega, Juigalpa e Nueva Segovia.

Na quarta-feira à noite, em León, foram registrados incidentes violentos que deixaram 35 feridos por disparos de armas de fogo, pedras e morteiros artesanais, disseram dirigentes do protesto nas redes sociais.

Centenas de estudantes e habitantes saíram na madrugada de quinta-feira para marchar na movimentada estrada para Masaya agitando bandeiras e pedindo a renúncia de Ortega e de sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo. Mobilizações também foram anunciadas em outras cidades do interior.

"Estamos nos manifestando pacificamente e condenamos os ataques em Chinandega e León. O governo já nos cansou com seu discurso duplo", declarou Edwin Carcache, líder do Movimento estudantil 19 de abril.

O chanceler Denis Moncada assegurou, após a suspensão do diálogo, que o governo tem "boa vontade", mas reiterou que a agenda proposta pela hierarquia é uma maneira "camuflada" de derrubar o governo de Ortega.

A proposta de adiantar as eleições é "um caminho para um golpe de Estado (...) para derrubar o governo fazendo com que pareça um processo legal", argumentou Moncada.

- Crise se agrava -

Os protestos contra o governo começaram em 18 de abril, quando os estudantes se opuseram a uma reforma do sistema de pensões, mas se espalhou a outros setores após a repressão que, até o momento, deixa 76 mortos, 868 feridos e 438 presos, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

A suspensão das sessões plenárias pelos bispos "agrava a crise porque o povo tinha grandes esperanças e confiança de que o diálogo nacional pudesse ser uma saída cívica e pacífica", disse à AFP o acadêmico Carlos Tunnermann.

O governo insiste em pedir a liberação das estradas, mas "o uso desses congestionamentos (bloqueios) são vistos como formas de protesto. Os que estão nos congestionamentos são cidadãos, camponeses, estudantes que não estão armados", disse Tunnermann, delegado da sociedade civil no diálogo.

Defendeu a agenda apresentada pelos bispos e assegurou que "não se trata de um golpe de Estado" como disse a delegação do governo.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, se pronunciou na quarta-feira por uma solução eleitoral à crise na Nicarágua.

"Quem pensa que a Nicarágua tem uma solução diferente à eleitoral se equivoca seriamente. Quando a sociedade está polarizada, a decisão deve voltar urgentemente ao soberano: o povo", disse Almagro em uma mensagem divulgada pela OEA.

A dirigente da opositora Frente Ampla pela Democracia (FAD), Violeta Granera, considerou que "o diálogo nos deixou esperançosos" de encontrar uma solução para a crise e deter a repressão.

"Agora o que nos resta é não nos deixarmos desfocar e sermos mais ousados, mais criativos e mais fortes com os protestos". Ortega "quer tempo para ganhar impunidade (...) já sabe que seus dias no poder estão contados", acrescentou.