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Maduro expulsa representantes dos EUA em resposta a sanções de Trump

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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta terça-feira (22) a expulsão do maior representante dos Estados Unidos em Caracas, após repudiar as sanções econômicas de Washington em represália por sua reeleição.

"Declaro persona non grata e anuncio a saída dentro de 48 horas do encarregado de negócios dos Estados Unidos (Todd Robinson)", disse Maduro, ao receber as credenciais como o vencedor da eleição de domingo, boicotadas e desconhecidas pela oposição.

O presidente respondeu assim a um decreto assinado na segunda-feira por seu homólogo americano, Donald Trump, que complica ainda mais o financiamento do país petroleiro, afundado em uma de suas piores crises econômicas.

"Repudio todas as sanções pretendidas contra a República Bolivariana da Venezuela porque causam dano, geram sofrimento ao povo (...) Rechaço e repudio a conspiração permanente", acrescentou.

Maduro também ordenou a expulsão do chefe da seção política, Brian Naranjo, número dois da embaixada e a quem identificou como o representante em Caracas da Agência Central de Inteligência (CIA).

Os Estados Unidos ameaçaram "tomar as medidas recíprocas pertinentes", segundo declarações feitas à AFP por um funcionário do Departamento de Estado.

Robinson, por sua vez, negou as acusações de Maduro de uma "conspiração militar".

"Repudiamos energicamente as acusações feitas contra mim e contra o meu ministro conselheiro (Brian Naranjo)", disse a jornalistas o representante diplomático dos Estados Unidos expulso na cidade de Mérida, à qual prometeu voltar.

"Essa é a minha primeira visita, mas não será a última visita a Mérida, ou à Venezuela", acrescentou. "O país precisa de uma mudança".

Contudo, Robinson não quis fazer mais comentários sobre a medida. "Como vocês entendem, esse é um momento bastante delicado e não vou responder as perguntas agora".

O governante socialista, de 55 anos, disse ter "provas" da "conspiração" dos Estados Unidos e de sua embaixada nos campos militar, econômico e político. Ambos os países carecem de embaixadores desde 2010.

- 'Ganhei uma boa disputa' -

Maduro foi proclamado oficialmente reeleito para governar até 2025, com um país em ruína e cada vez mais isolado, após a rejeição de vários governos que apoiaram o boicote da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Com uma abstenção eleitoral recorde de 54%, Maduro foi reeleito com 68% dos votos contra 21% do ex-chavista Henri Falcón, que participou se afastando da linha da MUD e acusou o governo de "compra de votos" e "chantagem" com os programas sociais.

"Ganhei uma boa disputa. Ninguém me deu essa vitória (...) que conquistei com a bravura e coragem com que enfrento o império", expressou na cerimônia ante a cúpula militar, o gabinete e membros da governista Assembleia Constituinte.

Os Estados Unidos descreveram as eleições como uma "farsa" e anunciaram imediatamente sanções, enquanto a União Europeia denunciou "irregularidades" na eleição e analisa medidas.

"Ao governo de Donald Trump, ao governo da Ku Klux Klan, eu digo: nem com sanções nem com ameaças nem conspirações vocês impediram as eleições", disse Maduro, acusando Falcón de ceder à pressão de Washington.

O Grupo Lima, composto por Canadá e 13 países latino-americanos, chamou para consultas seus embaixadores em Caracas e concordou em baixar o nível das relações e bloquear fundos internacionais à Venezuela.

"O que está vindo é um maior isolamento diplomático e comercial, e mais dificuldades de conceder crédito e financiamento", previu o analista AFP Diego Moya-Ocampos do IHS Markit, com sede em Londres.

- Revolução econômica -

Os analistas preveem um agravamento do colapso socioeconômico do país com as maiores reservas de petróleo do mundo, refletidas na escassez de alimentos e remédios, na hiperinflação, na brutal queda da economia e na produção de petróleo e no êxodo de centenas de milhares de pessoas.

"Me comprometo a fazer uma revolução econômica", disse o presidente, prometendo prosperidade durante seu segundo mandato, que terá início em janeiro de 2019.

Mas os Estados Unidos, que compram um terço da produção de petróleo venezuelana e ameaçam com um embargo de petróleo, buscam complicar a chegada de recursos em tempos de grave falta de liquidez.

Trump já havia proibido os americanos de negociar novas dívidas do país sul-americano, em default parcial, e na segunda-feira ampliou a medida para ativos e contas a pagar do país e da estatal Pdvsa.

"A Venezuela está começando a sofrer um boicote econômico dos Estados Unidos e de seus aliados. Será fatal para a permanência do regime", disse à AFP o internacionalista Carlos Romero.

Os Estados Unidos, o Canadá e a UE sancionaram dezenas de hierarcas venezuelanos. Na lista de Washington figuram, inclusive, Maduro e o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.

Maduro pediu um "diálogo", mas a oposição, profundamente dividida, assegurou que não cairá em "estratégias dilatórias" e pede "eleições verdadeiras".

O Parlamento de maioria opositora, na prática anulado pelo governo através do poder judiciário e da Constituinte, chamou nesta terça-feira Maduro de "usurpador".

"Que fique claro, é um ditador. Não podemos continuar divididos", assegurou a deputada Mariela Magallanes.

Para os especialistas, o desafio da oposição é se reunificar em torno de "uma estratégia" que quebre o chavismo, no poder desde 1999.