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Maduro é reeleito

Marcada pelo boicote da oposição e polêmicas, eleição tem baixa participação popular

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A Venezuela foi às urnas hoje para eleger o novo presidente do país e os membros dos Conselhos Legislativos Regionais, em uma eleição polêmica e cercada de protestos. O atual governante do país, Nicolás Maduro, foi reeleito com 5.823.728 dos votos, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Mais de 20 milhões de cidadãos estavam registrados para participar da consulta. A participação popular não deve passar de 45%. Em 2013, quando Maduro derrotou Henrique Capriles, o índice alcançou quase 80%. 

A votação transcorreu das 6h às 18h, mas o encerramento atrasou mais de uma hora e meia devido aos eleitores que ainda estavam na fila após o horário previsto para o encerramento das mesas. O mandato presidencial, segundo a Constituição, é de seis  anos. 

Com a oposição dividida e seus principais líderes sem direitos políticos ou presos, a principal legenda adversária do chavismo, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), boicotou o pleito por considerar o processo uma “fraude” para perpetuar Maduro no poder. Leopoldo Lopez está em prisão domiciliar e Henrique Capriles está impedido de se candidatar por acusações de má conduta relacionadas a quando era governador. 

Além disso, o Conselho Nacional Eleitoral é acusado de ser  um defensor dos interesses do governo. O ex-chavista Henri Falcón, no entanto, ignorou a determinação da MUD e lançou sua candidatura, pelo Movimento ao Socialismo (MAS), tornando-se o principal rival do  atual presidente nas urnas. Os outros candidatos  eram o pastor evangélico Javier Bertucci e Reinaldo Quijada, que se identifica com o chavismo mas se afastou do atual regime. 

Durante a campanha, o clima nas ruas era de relativa apatia. O povo venezuelano convive com apagões, falta de comida, remédios, transporte e água e hiperinflação. Nos últimos anos, muitos cidadãos deixaram o país, gerando inclusive uma crise na fronteira com a Colômbia e, em menos escala, no Brasil. O governo acusa interesses estrangeiros de estarem por trás da maioria dos problemas do país, e diz que a oposição quer dar um golpe de Estado. Além disso, afirma que o desabastecimento e a inflação são induzidos. 

A credibilidade das eleições na Venezuela foi colocada em dúvida por vários países e organismos mundiais, como União Europeia, Canadá e Estados Unidos. O governo americano denunciou a ausência total de legitimidade do processo realizado hoje. “A farsa das eleições não muda nada. Precisamos que o povo venezuelano controle o país. Uma nação com muito a oferecer ao mundo”, escreveu no Twitter o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. 

Em sua mensagem, Pompeo também pediu ao governo de Maduro que liberte o americano Joshua Holt, missionário preso em 2016 sob acusação de conspirar contra o governo. O governo dos EUA não reconhece as eleições e pediu às autoridades que cancelassem a consulta. Na sexta-feira, Washington sancionou o poderoso líder Diosdado Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido (PSUV), acusado de tráfico de drogas e corrupção.

Após votar em uma escola da zona oeste de Caracas, Maduro advertiu que “a vontade do povo venezuelano será respeitada aqui e no mundo”. O presidente também pediu o fim da “feroz campanha” dos Estados Unidos e de vários países contra seu governo.

Ao longo do dia, a campanha de Falcón fez pelo menos 900 denúncias de irregulariades nas zonas eleitorais, por crimes como a “compra de votos”, que teriam sido cometidos pelo governo. A equipe de Javier Bertucci também denunciou supostas fraudes. O CNE negou que tenha ocorrido irregularidades. 

Logo após o encerramento da votação, Falcón fez um pronunciamento criticando o boicote da oposição, que segundo ele atrapalhou as eleições, que classificou como ilegítimas devido às fraudes. “O processo não foi real, não o reconhecemos e exigimos que se convoquem novas eleições”, afirmou o dissidente do chavismo. 

As autoridades venezuelanos convidaram cerca de 150 consultores internacionais para acompanhar a votação, entre eles o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, para quem as eleições foram “impecáveis” e “absolutamente normais”. Mesmo assim, em várias cidades do mundo, houve protestos organizados por venezuelanos contra a realização das eleições.