ASSINE
search button

Debate ético em pesquisa sobre cérebro humano está atrasado, dizem especialistas

Compartilhar

E se o tecido cerebral humano implantado em um porco transferisse parte da autoconsciência e das memórias do doador?

Tal cenário, fora de alcance por enquanto, está se tornando cada vez mais concebível, de acordo com um grupo de cientistas, especialistas em ética e filósofos que convocaram, nesta quarta-feira, um debate sobre a ética de armazenar e usar a matéria do cérebro humano.

Os "substitutos" cerebrais compostos de células humanas reais - sejam pequenos organoides cultivados em laboratório, matéria cinzenta removida de um paciente humano ou tecido cerebral implantado em animais - são cruciais para o estudo do órgão que nos permite pensar.

Mas há riscos, alertaram 17 especialistas em um comentário publicado na revista científica Nature.

"À medida que os substitutos do cérebro se tornam maiores e mais sofisticados, a possibilidade de que eles tenham capacidades semelhantes à senciência humana pode se tornar menos remota", escreveram.

"Tais capacidades podem incluir ser capaz de sentir (até certo ponto) prazer, dor ou angústia; ser capaz de armazenar e recuperar memórias; ou talvez até mesmo ter alguma percepção de livre arbítrio ou consciência de si mesmo".

Há uma necessidade, argumentou o grupo, de "diretrizes claras para pesquisa" e de comitês especiais de supervisão.

Eles apontaram para um estudo no qual os cientistas notaram "atividade neural" após lançarem luz sobre uma região de um "organoide" humano com células do olho e do cérebro.

Os organoides são estruturas rudimentares em 3-D criadas a partir de células-tronco humanas e usadas para imitar características de um órgão em desenvolvimento para estudar doenças e incapacidades.

Os autores citaram outro estudo no qual pequenos organoides cerebrais humanos - implantados no cérebro de camundongos - sobreviveram e se comunicaram com o cérebro hospedeiro.

"Sem saber mais sobre o que é a consciência e quais elementos constitutivos ela requer, pode ser difícil saber quais sinais procurar" em experimentos, diz o texto.

Os pesquisadores propõem que uma solução poderia ser o uso de anestesia para manter os animais com tecido cerebral humano em estado comatoso.

"Talvez certas funções cerebrais ou um nível pré-especificado de atividade cerebral, sinalizando uma falta de capacidade, possam ser usados para delinear pesquisas eticamente justificáveis".

Essas perguntas difíceis não devem interromper a pesquisa crítica, destacou a equipe.

Substitutos do cérebro podem ajudar a desvendar os mistérios de doenças psiquiátricas e neurológicas.

"Mas para garantir o sucesso e a aceitação social dessa pesquisa no longo prazo, uma estrutura ética deve ser forjada agora, enquanto os substitutos do cérebro estão nos primeiros estágios de desenvolvimento".

mlr/mh/har/db