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Vídeo contradiz críticas israelenses à imprensa

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As Forças Armadas israelenses publicaram na semana passada uma foto com a qual pretendiam dar a entender que os jornalistas que cobrem as manifestações de palestinos em Gaza atuam, talvez propositalmente, como escudos humanos, mas um vídeo e o depoimento de um repórter da AFP no local contradizem esta alegação.

A Faixa de Gaza, território que fica entre Israel, Egito e o Mediterrâneo, controlada pelo movimento islamita Hamas, considerado "terrorista" por Israel, registra desde 30 de março grandes manifestações de palestinos.

Algumas pessoas se aproximam da fronteira com Israel para lançar objetos ou pneus em chamas na direção dos soldados israelenses mobilizados ao longo da barreira de segurança. Estes soldados às vezes atiram com munição real para evitar qualquer invasão em território israelense.

A tensão é grande a cada sexta-feira, dia da oração semanal muçulmana e de descanso para os habitantes de Gaza.

Em 13 de abril, as Forças Armadas israelenses publicaram uma foto, feita de longe, que mostra, segundo as autoridades do país, a perigosa proximidade física dos jornalistas com os chamados "terroristas".

A imagem mostra um jornalista da AFP junto a uma câmera com em um tripé entre os manifestantes, um deles com muletas. A seus pés está outro homem, encostado, que estende o braço em direção a Israel.

- "Israel será acusado" -

"Um terrorista esgrime um suposto artefato explosivo, quando jornalistas e um deficiente estão perto dele", afirma a legenda da foto das Forças Armadas publicada nas redes sociais.

O exército israelense utiliza esta imagem para "advertir as pessoas presentes no local que são utilizadas para dissimular atos de terrorismo".

Israel acusa constantemente o Hamas, movimento que enfrentou em três guerras desde 2008, de utilizar a população civil, funcionários da ONU ou profissionais da imprensa para acobertar operações contra o Estado hebreu.

Ao mesmo tempo, o exército israelense é denunciado por uso excessivo da força.

Desde 30 de março, 36 palestinos morreram e centenas ficaram feridos. Entre os mortos estava um jornalista que, segundo testemunhas, usava um colete com a palavra "imprensa" quando foi atingido por tiros israelenses.

As Forças Armadas afirmam que só atiram quando é necessário.

A fotografia divulgada pelo exército não reflete a tensão que prevalece perto da fronteira, onde os manifestantes arriscam suas vidas.

O porta-voz do exército israelense em língua árabe, Avichay Adraee, tuitou a foto para os 190.000 seguidores da conta, com direito a um diálogo imaginário e a sugestão de uma postura anti-israelense da imprensa.

"Vim sozinho, mas não me importo em ser ser utilizado como escudo humano. Se algo acontecer comigo, Israel será acusado", afirma um balão relacionado ao cinegrafista da AFP.

- Distância de segurança -

O vídeo gravado pelo jornalista da AFP e os elementos proporcionados mostram uma realidade diferente.

O vídeo mostra um homem no chão tentando, em vão, acender algo que é muito parecido a fogos de artifício, e que provavelmente não representa um perigo para os soldados israelenses a esta distância. O homem desiste de acender o objeto.

A AFP havia decidido não divulgar as imagens pouco informativas e a cena teria passado despercebida se o exército israelense não a tivesse utilizado.

Os fatos aconteceram a pelo menos 100 metros dos soldados israelense, segundo o jornalista. O repórter da AFP, acostumado a cobrir conflitos, explica que se posicionou no local para fazer uma transmissão ao vivo justamente porque o ponto estava a uma distância bastante segura.

A AFP não conseguiu identificar e encontrar o homem que tentava acender os fogos de artifício. O exército afirmou à AFP que em várias ocasiões foram lançados fogos de artifício como os do vídeo contra seus soldados.

A AFP questionou as Forças Armadas israelenses sobre o que permitia a seu porta-voz supor que um jornalista acusaria Israel em caso de incidente. A intenção, responderam, era "demonstrar como é perigosa e complexa a situação em que se colocam os jornalistas e civis quando escolhem estar nos locais em que a organização terrorista Hamas organiza incidentes violentos".