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Kuczynski, o 'gringo' que a Odebrecht derrubou

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Pedro Pablo Kuczynski, o "gringo" que chegou à Presidência peruana há 20 meses, anunciando que lideraria um "governo de luxo", deixou o poder nesta quarta-feira (21), atingido pelo escândalo de corrupção da empreiteira Odebrecht.

Filho de um médico alemão que fugiu do nazismo, com 79 anos, ele chegou ao poder com dois lastros: pouco apoio político em um Congresso que atua como contra-poder e sua condição de empresário. Seus opositores o acusavam de manter vínculos com grandes transnacionais e de agir como lobista.

Foram precisamente os vínculos com a empresa brasileira, que distribuiu dezenas de milhões de dólares a políticos latino-americanos em troca de obras públicas, que acabaram abruptamente com sua Presidência, que tinha coroado uma carreira bem sucedida a serviço do país desde 1968, quando foi nomeado gerente do Banco Central de Reserva, antes de ser ministro em várias ocasiões, investidor de Wall Street e economista do Banco Mundial.

- Ginástica e piadas -

Quando assumiu a Presidência, em julho de 2016, o homem que deixou a Amazônia de sua infância para estudar em Oxford na juventude, surpreendeu os peruanos com passos de dança e durante a primeira reunião do Conselho de ministros colocou todos para fazer exercícios no pátio do Palácio do Governo.

Entre piadas, dizia que a Presidência seria seu último trabalho, alegando que por conta de sua idade estava mais perto de uma aposentadoria do que em busca de perpetuar-se no poder. 

Vangloriava-se de comandar um governo de luxo, pelo próprio currículo e o de seus ministros.

"Eu não sou um político, sou um economista que quer fazer algo pelo seu país", dizia o ex-consertista de flauta transversal do Royal College of Music, que deixou o instrumento para se dedicar à política. Em mais de uma oportunidade, porém, participou de apresentações beneficentes em busca de fundos de ajuda social.

Sua inclinação às artes foi incentivada pela mãe, Madeleine Godard, de origem franco-suíça e tia do cineasta Jean-Luc Godard.

- Um "gringo" no império inca -

Ficou conhecido como "o gringo" por seu sotaque anglo-saxão, herdado da educação nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Graduou-se em Política, Filosofia e Economia em Oxford e em Administração Pública na Universidade de Princeton.

No Peru, é popularmente conhecido como PPK, pelas iniciais de seu nome, uma fórmula simples para um sobrenome impronunciável para a maioria de seus compatriotas.

Nascido em Lima em 3 de outubro de 1938, passou grande parte de sua infância no ambiente amazônico.

Em 3 de outubre de 1968, um golpe de Estado liderado por militares nacionalistas de esquerda, o forçou a fugir do país pela fronteira equatoriana escondido no porta-malas de um carro.

Casado duas vezes, ambas com americanas, Kuczynski é pai de quatro filhos. Desde 1997, sua esposa é Nancy Lange, prima da atriz Jessica Lange.

Apesar de crítico ao protecionismo comercial, defendido pelo presidente americano Donald Trump, concordou com este último em suas condenações ao regime do venezuelano Nicolás Maduro, de quem retirou o convite para participar, em Lima, da Cúpula das Américas, prevista para abril.

Percebido como um homem frio e com um senso de humor cáustico, suas piadas recorrentes fora de lugar começaram a não se encaixar no imaginário peruano.

Sua infância na Amazônia, onde seu pai fazia trabalhos médicos humanitários, forjou sua fortaleza de caráter e resistência à adversidade, que deve ajudá-lo a superar a forma repentina e amarga com que terminou seu mandato.