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Kuczynski depõe a comissão legislativa sobre vínculos com Odebrecht

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O presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, cujo mandato está por um fio, começou a depôr nesta sexta-feira (16) a uma comissão investigadora do Congresso sobre seus vínculos com a Odebrecht.

"Eu não tenho acesso à justiça. Rejeitam todos os nossos habeas corpus, rejeitam todos nossos pedidos de minha defesa", disse, da Califórnia, o ex-presidente à rádio de Lima RPP.

"O chefe de Estado atende esse grupo parlamentar em uma clima de respeito e com total transparência", informou a Presidência em sua conta do Twitter.

O futuro de Kuczynski, um empresário de direita de 79 anos, está ameaçado depois que o Congresso - dominado pela oposição - acordou nesta quinta-feira discutir e votar em 22 de março uma moção para destituí-lo, acusado de mentir sobre seus laços com a Odebrecht, três meses após ter sobrevivido a um processo similar.

"O mais importante é que hoje o presidente colabore. Aqui se vai respeitar seu direito à defesa", disse aos jornalistas a presidente da comissão investigadora, a opositora Rosa Bartra, antes de partir ao palácio de governo para interrogar o presidente.

A legisladora fujimorista pediu para que o presidente ajude a "esclarecer" os casos sobre a construcção das rodovias Interoceânica Sul e Interoceânica Norte, que unem o Peru ao Brasil.

Essas vias foram construídas durante o governo de Alejandro Toledo (2001-2006), quando Kuczynski era ministro e encarregado das licitações públicas. A Odebrecht declarou que pagou 20 milhões de dólares de suborno a Toledo para ficar com obra, o que o ex-presidente nega.

"Nunca recebi dinheiro sujo do senhor Barata ou do senhor Maiman", expressou Toledo nesta quinta-feira a uma rádio de Lima. "Se o senhor Barata deu (dinheiro) ao senhor Maiman, esses são negócios deles".

"Estou profundamente triste e indignado. Essa maldita justiça cedo ou tarde vai me pagar, porque eu não recebi nada", acrescentou.

Toledo negou ser fugitivo da justiça peruana, afirmando que quando partiu há um ano aos Estados Unidos fez isso para cumprir compromissos com a Universidade de Stanford, a mesma onde se formou e fez doutorado. Na época não existia ordem de prisão preventiva contra ele.

- Vazamento de transações bancárias -

Segundo a imprensa, são nove os pontos que o presidente deverá responder à "Comissão Lava Jato".

Entre eles destacam as concessões nas quais intervieram empresas brasileiras como Odebrecht, OAS, Camargo Correa e Queiroz Galvao.

O legislador opositor Víctor Andrés García Belaúnde disse que além de Kuczynski devia responder pelas declarações de seu ex-sócio chileno Gerardo Sepúlveda, que afirmou que lhe havia entregue 720.000 dólares por uma assessoria de uma empresa sua à Odebrecht.

Os seis membros da comissão, que entraram no palácio de governo às 09h30 do horário local (14h30 GMT, 11h30 horário de Brasília), haviam "convidado" Kuczynski para depôr há sete meses, destacou Bartra.

O presidente vinha se negando a testemunhar, alegando que só o faria depois que o ex-chefe da Odebrecht no país, Jorge Barata, depusesse. Barata foi interrogado no final de fevereiro.

A presidente do Conselho de Ministros, Mercedes Aráoz, criticou a comissão investigadora, afirmando que ela vazou para a imprensa relatórios sobre transferências bancárias feitas pelo presidente.

"É inaceitável que tenham revelado informação privada", manifestou Aráoz à imprensa.

Kuczynski, que sobreviveu a outra moção de destituição em dezembro, também depôs nesta quinta-feira a um procurador que investiga o suposto suborno de Odebrecht a Toledo pela obra da rodovia Interoceânica.

"Como disse desde o início, não tenho nada a esconder e estou disposto a declarar com total transparência às instâncias correspondentes", escreveu Kuczynski no Twitter depois de depôr.