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Congresso peruano aceita debater destituição de Kuczynski por Odebrecht

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O Congresso do Peru aceitou nesta quinta-feira discutir uma moção de destituição do presidente Pedro Pablo Kuczynski por "incapacidade moral" em função de ter mentido sobre sua ligação com a empreiteira Odebrecht.

"Foi admitida a moção de vacância" presidencial, disse o presidente do Congresso, Luis Galarreta, após a votação efetuada após um debate de 45 minutos.

A moção será debatida e votada no Congresso unicameral em 22 de março,segundo uma fonte do legislativo. 

Para ser admitida o trâmite precisava de 51 votos. Para que a vacância seja finalmente aprovada pelo Congresso são necessários 87 votos, os mesmos da moção desta quinta-feira, o que complica as opções de Kuczynski.

Kuczynski, um empresário e banqueiro de direita de 79 anos, é acusado de ter mentido sobre suas vínculos com a questionada empresa Odebrecht, que admitiu ter feito milionários pagamentos ilegais a políticos no Peru.

A ameaça de destituição gerou incerteza no país anfitrião da Cúpula das Américas que se realizará em abril, à qual o presidente americano Donald Trump e cerca de trinta de governantes americanos. Até o venezuelano Nicolás Maduro disse que comparecerá ao encontro, embora Lima o tenha tirado da lista de convidados.

Dos partidos minoritários de esquerda lançaram a moção para declarar a vacância presidencial por "incapacidade moral" depois que Kuczynski indultou o ex-presidente Alberto Fujimori em dezembro do ano passado.

A moção apresentada ao Congresso há uma semana não mencionava o indulto, somente as "mentiras, enganos e graves conflitos de interesse" de Kuczynski em relação à Odebrecht.

A mudança de motivo - o indulto pelo caso Odebrecht - permitiu que a moção conseguisse apoio do partido Força Popular (direita populista), a maior força política do país, liderado por Keiko Fujimori, filha do ex-presidente.

Silêncio do vice-presidente

Se Kuczynski finalmente for destituído pelo Congresso, o primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, que exerce o cargo de embaixador no Canadá, assumiria o cargo.

Aliados do governo esperavam que Vizcarra manifestasse sua intenção de não aceitar o cargo, o que a segunda vice-presidente, Mercedes Aráoz já prometeu. Vizcarra, contudo, permanece em silêncio.

Se nenhum dos dois vice-presidentes assumir o cargo, o presidente do Congresso, o fujimorista Luis Galarreta, terá que convocar novas eleições.

O temor de eleições antecipadas é favorável a Kuczynski, mas o silêncio de Vizcarra joga contra, segundo os analistas.

Kuczynski está no olho do furacão desde que em dezembro do ano passado a Odebrecht revelou que há uma década havia pago cerca de cinco milhões de dólares por assessorias a empresas ligadas a ele quando era ministro. Até então ele teria negado todo laço com a construtora.

Odebrecht admitiu que fez doações de campanha 2006 e 2011 aos últimos quatro ocupantes da presidência peruana, incluindo Kuczynski, e a Keiko Fujimori. Todos eles negam.

Embora não se saiba se a nova moção conta com o apoio para eventualmente aprovada, há analistas que duvidam que Kuczynski se mantenha no poder até o fim de seu mandato, em 2021.

"Não acredito que o presidente Kuczynski chegue, de nenhuma maneira, ao final de seu mandato", disse à AFP o sociólogo e analista político Fernando Rospigliosi.