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Merkel quer dar 'voz forte' à Alemanha na Europa

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Angela Merkel prometeu nesta segunda-feira (5) trabalhar rapidamente e devolver a seu país uma "voz forte" na Europa diante dos desafios que minam a União Europeia (UE), após seis meses de paralisia política que a enfraqueceram.

"Quase seis meses após as eleições legislativas de 24 de setembro, os eleitores têm o direito de esperar que algo aconteça finalmente", disse Merkel no dia seguinte à decisão por referendo interno dos social-democratas do SPD de formar uma maioria governamental.

"Vemos todos os dias que a Europa é muito solicitada, e que se faz necessária uma voz forte da Alemanha, ao lado da França e de outros Estados-membros", afirmou antes de uma reunião da liderança de seu partido Democrata Cristão (CDU).

Depois desses meses de imbróglio político alemão, o estandarte europeu parece ter passado às mãos do presidente francês, Emmanuel Macron, que aguarda para negociar um plano ambicioso para reformar uma UE enfraquecida pelo surgimento de nacionalismos e de populismos.

Entre outros desafios europeus, a chanceler citou nesta segunda-feira o comércio internacional, em um contexto de conflito com os Estados Unidos de Donald Trump, e a guerra na Síria, sobre a qual a UE é inaudível, embora o conflito tenha provocado uma crise migratória na Europa sem precedentes desde 1945.

Sobre a disputa comercial com os Estados Unidos, Berlim considerou que Washington "está tomando o caminho equivocado" com a adoção de medidas protecionistas.

"Não queremos uma piora na situação que conduza a uma guerra comercial" que não beneficiaria ninguém, declarou o porta-voz do governo, Steffen Seibert.

Angela Merkel, cuja candidatura à Chancelaria foi formalmente apresentada à Câmara dos Deputados nesta segunda-feira para uma votação em 14 de março, também enfrenta o avanço histórico do movimento de extrema-direita AfD, que bagunçou o sistema político alemão, colocando questões de identidade e de imigração no centro do debate e alimentando um movimento anti-Merkel em seu partido.

Parte dos conservadores da chanceler acreditam que o fortalecimento de uma direita antimigrantes e anti-Europa se deva à linha excessivamente centrista de Merkel e à recepção de mais de um milhão de demandantes de asilo entre 2015 e 2017.

A chanceler também teve de ceder uma pasta ministerial, a Saúde, ao líder de seus críticos da ala dura da CDU, o jovem e ambicioso Jens Spahn.

Apesar dessas incertezas, Merkel voltou a demonstrar sua resiliência, conseguindo um quarto mandato após 12 anos no poder.

A sustentabilidade do próximo governo continua a ser questionável, porém, já que os social-democratas adotaram um contrato de coalizão que prevê uma cláusula de saída em menos de dois anos.

AfD irrompe

A extrema-direita comemorou a renovação desta aliança - GroKo em alemão -, considerando ter tudo a ganhar porque, de acordo com o AfD, os partidos conservador e social-democrata perderam sua identidade e seus eleitores ao governarem juntos.

"A fatura chegará até 2021" nas próximas eleições, considerou Alice Weidel, copresidente do Grupo Alternativo para a Alemanha.

Antes que o quarto governo de Merkel tome posse, algumas etapas formais precisam ser cumpridas. Seus aliados ainda não finalizaram a lista de seus ministros.

Os conservadores bávaros da CSU, defensores de uma linha dura sobre a imigração, devem confirmar nesta segunda-feira que seu líder, Horst Seehofer, assumirá a pasta do Interior, renomeada polemicamente de "Ministério da Pátria".

O SPD deve nomear nos próximos dias os ministros das Relações Exteriores e da Justiça.

Também deve confirmar que o prefeito de Hamburgo, Olaf Scholz, vai dirigir as Finanças, depois que SPD forçou Merkel a lhe dar esta carteira para o desgosto de muitos conservadores, que temem que um social-democrata acabe com o rigor orçamentário na UE.