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Após polêmica, Catherine Deneuve pede desculpas às vítimas de assédio

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A atriz francesa Catherine Deneuve escreveu novo artigo, no jornal Libération, se desculpando com as vítimas de assédio sexual, após ter assinado um manifesto publicado pelo Le Monde defendendo a "liberdade dos homens de importunar" as mulheres. "Eu saúdo fraternalmente todas as vítimas de atos odiosos que possam ter se sentido agredidas por esse artigo no 'Le Monde', é a elas, somente, que apresento as minhas desculpas", escreveu Deneuve. 

"Sim, eu assinei a petição e então, me parece absolutamente necessário hoje enfatizar minha discordância com a forma de como algumas signatárias reivindicaram o direito de se difundir nas mídias, distorcendo o espirito do texto. Dizer em um canal de TV que se pode desfrutar durante um estupro é pior do que cuspir na face de todos os que sofreram este crime. Essas palavras não só sugerem aos que têm o hábito de usar a força ou a sexualidade para destruir que isso não é tão grave, porque, ao final a vítima tem prazer. Mas quando assinamos um manifesto que envolve outras pessoas, estamos de acordo, evitamos embarcar em sua própria incontinência verbal. É indigno. E, obviamente, nada no texto afirma que o assédio é bom, caso contrário, eu não o teria assinado", prosseguiu Deneuve.

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Em outro trecho, ela afirma: "Às vezes, fui criticada por não ser feminista. Lembro-me de que eu era uma das 343 putas com Marguerite Duras e Françoise Sagan que assinaram o manifesto "Eu tive um aborto" escrito por Simone de Beauvoir. O aborto foi punido com penalidades e prisões na época. É por isso que eu gostaria de dizer aos conservadores, racistas e tradicionalistas de todos os tipos que acham estratégico me apoiar que não me engano. Eles não terão minha gratidão nem minha amizade, pelo contrário. Sou uma mulher livre e continuarei assim."

Ela também afirma: "Sou atriz desde os 17 anos. Naturalmente, posso dizer que testemunhei situações mais do que delicadas, ou que eu sei de outras atrizes que os cineastas abusaram covardemente de seu poder. Não vou falar no lugar das minhas irmãs. O que cria situações traumáticas e insustentáveis é sempre o poder, a posição hierárquica ou uma forma de influência. A armadilha fecha quando se torna impossível dizer não sem arriscar o emprego, ou sofrer humilhação e sarcasmo degradantes.

Acredito que a solução virá da educação de nossos meninos e meninas. Mas, possivelmente, também protocolos em empresas, que induzem que, se houver assédio, que os processos sejam imediatamente iniciados. Eu acredito na justiça."

Globo de Ouro

A polêmica teve início após o manifesto de mulheres no Globo de Ouro contra as denúncias de assédio sexual. Elas se vestiram de preto no evento, que contou ainda com um contundente discurso da apresentadora Oprah Winfrey.

Após o Globo de Ouro, um grupo de cem artistas francesas assinaram um manifesto condenando a onda de "denuncismo", após acusações contra o produtor Harvey Weinstein terem vindo à tona. Em um dos trechos da carta, as francesas afirmam que o estupro é crime, mas que "seduzir alguém, ainda que de forma insistente", não é.

O manifesto das francesas gerou forte repercussão, com algumas feministas afirmando que elas eram "aliadas dos porcos".