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Papa pede diálogo entre Coreias e defende status de Jerusalém

Pontífice discursou para Corpo Diplomático sobre crises mundiais

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Durante o tradicional discurso para o Corpo Diplomático, o papa Francisco falou nesta segunda-feira (8) sobre os atuais conflitos e crises no mundo e pediu todo o apoio para as conversas entre os governos das Coreias do Sul e do Norte.

"É de primária importância que se possa apoiar qualquer tentativa de diálogo na península coreana, a fim de encontrar novas estradas para superar os conflitos atuais, fazer crescer a confiança recíproca e assegurar um futuro de paz ao povo coreano e ao mundo inteiro", ressaltou Francisco classificando como "impensável" uma guerra nuclear.

A fala ocorre menos de 24 horas antes da primeira reunião de alto nível entre as duas nações, marcada para esta terça-feira (9), que tratará da participação norte-coreana nos Jogos Olímpicos de Inverno na cidade sul-coreana de Pyeongyang em fevereiro.

Citando uma afirmação do papa João XXIII, Jorge Mario Bergoglio destacou que a Santa Sé mantém sua postura de que "as eventuais controvérsias entre os povos não devem ser resolvidas sob os recursos das armas, mas através da negociação".

Por outro lado, continuou o líder religioso, a "contínua produção de armas sempre mais avançadas e aperfeiçoadas e o grande número de focos de conflito - os quais já chamei mais de uma vez de 'terceira guerra mundial em partes' - não pode ser repetidas com a força das palavras de meu antecessor". "É quase impossível pensar que, na era atômica, a guerra possa ser utilizada como um instrumento de justiça", acrescentou voltando a citar João XXIII.

Em outra parte de seu discurso, o sucessor de Bento XVI voltou a comentar o agravamento da crise entre israelenses e palestinos, destacando que "ao exprimir a dor por todos aqueles que perderam suas vidas nos recentes conflitos, renova-se o pedido urgente para ponderação em cada iniciativa com o fim de evitar a exacerbação dos conflitos".

"Convidamos a todos a um compromisso comum no respeito , em conformidade com as pertinentes Resoluções das Nações Unidas, o status quo de Jerusalém, cidade sacro-santa para cristãos, judeus e muçulmanos", disse.

Apesar de não citar nominalmente, a fala foi uma menção à atitude do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer unilateralmente Jerusalém como capital de Israel. A medida, anunciada no dia 6 de dezembro, causou um aumento na violência no Oriente Médio e gerou críticas de todas as nações islâmicas - bem como das Nações Unidas e da União Europeia.

"Os 70 anos de conflito torna mais urgente do que nunca a busca por uma solução política que permita a presença na região de dois Estados independentes dentro dos limites reconhecidos internacionalmente. Mesmo entre as dificuldades, a vontade de dialogar e de retomar as negociações permanece a estrada mestre para atingir finalmente a uma coexistência pacífica entre os dois povos", acrescentou.

- Outros conflitos pelo mundo:

O papa Francisco também comentou sobre outros conflitos pelo mundo e ressaltou o momento de reconstrução, por exemplo, na Síria.

"É importante que possamos prosseguir, em um clima de crescimento de confiança entre as partes, as várias iniciativas de paz em curso a favor da Síria. Que isso possa, finalmente, colocar fim ao longo conflito que envolveu o país e que causou incalculáveis sofrimentos. O desejo comum é que, depois de tanta destruição, tenha chegado o tempo de reconstruir", acrescentou.

O Sumo Sacerdote ainda afirmou que "além de construir os prédios, é preciso reconstruir os corações, reencontrar o tecido da confiança recíproca, uma premissa imprescindível para florir qualquer sociedade". Durante a fala sobre o Oriente Médio, Bergoglio ainda pediu a proteção de todas as minorias religiosas, "entre as quais estão os cristãos", para que eles possam "continuar contribuindo com a história da Síria" e da região.

De acordo com ele, é "muito importante" que os milhões de refugiados que foram, especialmente, para a Jordânia, o Líbano e a Turquia, possam "voltar para casa". 

Em outro ponto do discurso, o Papa lembrou da crise política, econômica e social da Venezuela, ressaltando que a situação só poderá ser resolvida "a partir do interior do contexto nacional, com a abertura e a disponibilidade do encontro".

"Penso especialmente na minha querida Venezuela, que está atravessando uma crise política e humanitária sempre mais dramática e sem precedentes. Enquanto a Santa Sé exorta a responder sem demora às necessidades primárias da população, deseja que se criem condições para que as eleições previstas para o ano em curso sejam capazes de iniciar a solução para os conflitos existentes. Assim, pode-se olhar com serenidade para o futuro", ressaltou.

Durante os dois últimos anos, o Vaticano tentou, sem sucesso, intermediar conversas entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição para tentar por fim à crise. Os debates fracassaram, no entanto, após o presidente não marcar eleições conforme o prometido e, entre outras coisas, se negar a abrir corredores humanitários para os mais necessitados.

- Imigrantes:

Um dos pontos mais batidos durante os seus discursos em seus quase cinco anos de Pontificado, a imigração também ganhou destaque no discurso ao Corpo Diplomático.

"Hoje se fala muito dos imigrantes e de imigração apenas para suscitar medos ancestrais. As migrações sempre existiram. Na tradição judeu-cristã, a história da salvação é essencialmente uma história de imigração. A liberdade de movimento, como aquela de deixar o próprio país e de voltar para ele pertence aos direitos fundamentais do homem", afirmou o líder católico.

Continuando com sua fala, ele ressaltou que "apesar da retórica de medo difundida" pelo mundo, é preciso considerar que "diante de nós estão, acima de tudo, pessoas".

"Não se pode esquecer a situação de famílias despedaçadas por causa da pobreza, das guerras e das migrações. Nós temos muitas vezes, diante de nossos olhos, o drama das crianças que vagam sozinhas até as fronteiras que separam o sul do norte do mundo, sofredoras do tráfico de seres humanos", ressaltou.

Lembrando de seu discurso pelo Dia Mundial da Paz, ele destacou que "mesmo reconhecendo que nem todos estão com as melhores intenções, não se pode esquecer que a maior parte dos imigrantes preferia ficar em suas próprias terras, enquanto são obrigados a deixá-la por causa de discriminações, perseguições, pobreza e destruição ambiental".

"Praticando a virtude da prudência, os governantes devem saber acolher, promover, proteger e integrar, estabelecendo medidas práticas para aquela reinserção. Quero agradecer, novamente, aos líderes daquelas nações que neste anos forneceram assistência aos inúmeros imigrantes que chegaram às suas fronteiras", disse ainda.

"Desejo, em particular, exprimir uma gratidão particular à Itália que, neste anos, mostrou um coração aberto e generoso e soube oferecer exemplos positivos de integração", disse ainda.

- Direitos Humanos:

Em outro ponto de sua fala, Francisco voltou a defender os direitos humanos, entre os quais "a liberdade de pensamento, de consciência e de religião, que inclui ainda a liberdade de mudar de religião".

"Infelizmente, é conhecido como o direito de liberdade de religião é muitas vezes rejeitado e também se sabe que o direito à religião é usado para justificar, ideologicamente, novas formas de extremismos ou de um pretexto para a marginalização social, se não uma forma de perseguição aos que creem", ressaltou.

"A construção da sociedade, inclusive, exige como sua condição uma compreensão integral da pessoa humana, que deve se sentir verdadeiramente acolhida quando é reconhecida e aceitada em todas as suas dimensões que constroem a identidade", afirmou.