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Putin 'toma' o Oriente Médio e vira líder anti-Trump

Presidente russo vem construindo eixo com países muçulmanos

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Vladimir Putin tomou para si o Oriente Médio. Do sírio Bashar al Assad ao turco Tayyip Erdogan, passando pelo egípcio Abdel Fatah al Sisi, o "czar" russo lançou um eixo com líderes do mundo islâmico para enfrentar as crises na região.

Um tour que, na última segunda-feira (11), o levou a Síria para anunciar, ao lado de Assad, o início da retirada das tropas russas do país árabe; ao Cairo para impulsionar as relações com o país mais populoso e o maior exército do mundo árabe; e à Turquia para abençoar a campanha anti-Trump sobre Jerusalém, às vésperas do encontro das nações islâmicas em Istambul.

A jornada campal do líder do Kremlin começou com uma escala surpresa. No caminho para o Egito, seu Tupolev Tu-214 parou na base de Hmeimim, na província de Latakia, coração das operações militares de Moscou na Síria. Ali, entre sorrisos e apertos de mão com Assad, agradeceu a seus soldados e anunciou - a tempo para as eleições presidenciais de março - o início da retirada de "uma parte considerável do contingente russo", empenhado na luta contra o terrorismo e na manutenção do regime de Damasco.

Uma reorganização decidida porque, em suas palavras, chegou o momento de uma "solução política sob a égide da ONU". "Mas se os terroristas levantarem a cabeça, conduziremos ataques como eles nunca viram", ameaçou Putin.

No Cairo, o general Sisi o recebeu já na escada do avião. Um aceno de boas-vindas que carrega consigo acordos bilionários, da indústria ao comércio, passando pela cooperação militar. O mais importante de todos é aquele que prevê a construção da primeira central nuclear egípcia, em Dabaa, no Mediterrâneo.

Putin também mostrou abertura a um eventual retorno dos voos civis russos, cruciais para o turismo local e interrompidos pelo atentado contra um avião no Sinai, em 2015. "O Egito é nosso antigo parceiro no Oriente Médio", disse Putin, acrescentando que está pronto a colaborar com o Cairo inclusive para "garantir a estabilidade e a segurança da Líbia", área de influência da Itália.

Já de noite, o czar desembarcou em Ancara para uma visita pedida de última hora por Erdogan. No terceiro cara a cara entre eles em um mês, os dois líderes reafirmaram um compromisso "a cada dia mais forte" no plano comercial e energético e assentaram as bases para um acordo sobre o Congresso Nacional da Síria, que estará no centro da próxima rodada de negociações no Cazaquistão.

A resistência turca diz respeito à presença dos curdos nas tratativas, um imperativo estratégico que ainda marca a distância entre Ancara e Moscou. Forte também é a aliança sobre Jerusalém. A escolha de Trump é "desestabilizadora" e "não ajudará a resolver a situação", disse Putin.

Música para os ouvidos do sultão Erdogan, que está usando a defesa dos palestinos para se relançar como paladino do mundo muçulmano. As relações com Israel, recosturadas formalmente em 2016, se deterioraram, com trocas de violentas acusações com Benjamin Netanyahu.

"Os Estados Unidos se tornaram um parceiro do derramamento de sangue por Israel", disse Erdogan.

*Por Cristoforo Spinella