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Com críticas a Trump, Macron defende acordos e pede diálogo

Francês defendeu acordos sobre Clima e com o Irã

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O presidente da França, Emmanuel Macron, fez seu discurso de estreia na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (19) e cobrou a união e as decisões "multilaterais" da entidade. Com citações ao governo de Donald Trump - e algumas frases que deixaram no ar à oposição ao norte-americano -, o francês falou sobre as principais crises no mundo.

Ao iniciar sua fala, o presidente discursou sobre a história da entidade para "lembrar" de todos aqueles que lutaram para construir e tornar efetiva a Organização das Nações Unidas. E, para ilustrar cada ponto de seu discurso, Macron citava uma pessoa que conheceu e que viveu uma situação de extremo risco, como na crise de refugiados na Europa, na guerra da Síria ou um sobrevivente do recente furacão Irma no Caribe.

"Quero falar por aqueles que não tem voz porque falar por aqueles que não tem voz, significa falar por todos nós", disse aos presentes.

Ao falar sobre a guerra ao terrorismo internacional, Macron deu sua primeira "indireta" a Trump. Em um primeiro momento, ele afirmou que a guerra na Síria não pode ser resolvida "apenas com operações militares" porque precisamos lutar pela "paz" e pela "educação e cultura".

Segundo Macron, fornecer ajuda médica e para restabelecer os serviços básicos sírios é uma maneira de permitir que a guerra não se estenda. Em outro momento, Macron falou sobre a crise no Mali e ressaltou que "um dos nossos objetivos sempre deve ser oferecer educação e cultura" para as populações atingidas. "A resposta militar nunca é a única resposta. Há a responsabilidade do cuidado e também a política para o desenvolvimento desses povos", acrescentou.

Já ao citar a crise de refugiados que atinge a Europa, o presidente francês destacou o trabalho feito por líderes europeus e pela União Europeia para ajudar os países de onde partem a maior parte dos imigrantes ilegais que fazem a travessia no Mar Mediterrâneo.

Recentemente, após uma iniciativa da Itália, a UE começou a fechar acordos com países norte-africanos - o que vem causando uma significativa queda no número de embarcações clandestinas que chegam ao continente.

"Nós adotamos uma 'road map' no Mediterrâneo Central onde a meta é impedir o tráfico de pessoas, ajudando os países de origem, ajudando no melhor de suas fronteiras, investindo neles. Nós temos que lutar contra as causas das instabilidade no mundo", disse sob aplausos.

Em um do momentos mais duros do discurso, o líder do Eliseu afirmou que a minoria muçulmana rohingya é vítima de 'uma limpeza étnica" em Myanmar e que é urgente a ONU e a comunidade internacional agirem para evitar uma catástrofe ainda maior.

"A lei de direito humanitário nem sempre é respeitada, e chega a ser usada politicamente. Proteger os refugiados é um dos compromissos de um governo, e nós vamos apoiar isso onde quer que esteja acontecendo", disse ainda.

- Críticas a Trump:

A partir da segunda metade de seu discurso, Macron foi o oposto do que foi ouvido na fala de Trump.

Ao falar das mudanças climáticas e do Acordo sobre o Clima de Paris, o francês fez uma dura defesa do acordo e afirmou que nada será renegociado.

"As mudanças climáticas vão afetar a todos e vão ser cada vez mais frequentes. O planeta não vai renegociar conosco, as mudanças no clima não vão renegociar conosco. Precisamos assumir nossos compromissos. Nós todos somos afetados pelas mudanças, sejam os eventos ocorridos na China, no Caribe, na África.. esse foi um compromisso assinado aqui", disse ao público.

"Aquele acordo não está aberto para a renegociação [...] Ele pode ser debatido, melhorado com os novos estudos que estão sendo feitos. Mas, nós nunca vamos dar passos para trás. Eu respeito a decisão dos Estados Unidos, mas a porta sempre estará aberta", disse sob muitos aplausos da plateia.

No início do ano, Trump anunciou que retiraria os EUA do Acordo de Paris e que só aceitaria ficar se o pacto fosse debatido "de maneira mais favorável" ao país. Em outro contraponto de Trump, Macron defendeu o diálogo para a crise com a Coreia do Norte, mesmo que o país "tenha elevado as ameaças para níveis jamais vistos".

"Eles não deram nenhum sinal de que estão dispostos a conversar. Mas, a nossa responsabilidade é trazer a Coreia do Norte para a negociação. Nós não vamos fechar nenhuma porta para as negociações", acrescentou. Mais cedo, o líder de Washington ameaçou "destruir" Pyongyang se eles não finalizarem os testes com lançamentos de mísseis e nucleares. Macron ainda criticou as "ameaças" de Trump ao acordo nuclear firmado com o Irã em 2015.

Segundo o mandatário, "o acordo com o Irã é sólido" e ficar "denunciando-o e rejeitando-o sem propor nada novo é um grave erro".

Ainda em seu discurso, ele afirmou que "graças ao diálogo, nós resolvemos a questão nuclear" com o país e que ele representa um "pacto de paz". Ao fim de seu discurso, novas críticas veladas ao republicano. Macron defendeu - e repetiu por diversas vezes - a palavra "multilateralismo" para lidar com todas as graves crises mundiais.

"Se nós tomarmos ações unilaterais, não dará certo. Não resolverá nada. [...] O desafio é reconquistar os nossos valores, porque todos os nossos desafios são multilaterais. Não é a sobrevivência do mais forte.

Nossa visão é universal, e precisamos de multilateralismo", acrescentou. Em outro momento, sempre ressaltando que a paz nos países em guerra é a "paz para todos", Macron defendeu que os líderes "escutem" os afetados pelos conflitos. " A segurança de todos nós é a segurança de todos eles. A nossa vida é também a vida deles", acrescentou.

"Não são os muros que protegem a gente, é a nossa vontade de agir, a nossa postura. O que nos protege é ajudar as vítimas do mundo. Se falharmos em ouvir a voz deles, falharemos em ouvir as nossas vozes", disse em mais uma alfinetada a Trump.