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Centenário restaurante Roma marca renascimento de Amatrice

Dono do local quase morreu sob escombros de hotel histórico

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Seis horas sob os escombros e 40 dias internado. Alessio Bucci, filho do proprietário do Hotel Roma, um dos símbolos de Amatrice destruídos pelo terremoto de 24 de agosto de 2016, enfrentou maus momentos no último ano. No entanto, depois de 12 meses do sismo, ele protagoniza uma das tantas histórias de renascimento na cidade mais devastada pela tragédia.

"O mais difícil foi estar no hospital com minha esposa. Para minha sorte, ela estava comigo, porque não foi fácil ficar ali. Estava sempre na cama, não caminhava, vivia intubado, fazendo transfusões. Estava muito mal", conta Bucci, 39 anos, em entrevista à ANSA.

Desde 29 de julho, ele comanda o novo "Ristorante Roma", que ficava no hotel homônimo administrado por sua família e foi reaberto em um espaço gastronômico chamado "Area Food". Famoso pelo macarrão à amatriciana, o restaurante costumava atrair milhares de turistas desejosos de provar o maior clássico de Amatrice, uma receita que leva produtos locais como guanciale (bochecha de porco) e queijo pecorino, além de tomate, azeite de oliva e vinho branco.

Há quase um mês, é esse prato que vem mantendo o "Roma" repleto de clientes até de noite, mas o percurso para a reinauguração não foi fácil, principalmente para Bucci. O empresário dormia em seu quarto no primeiro andar do hotel com a esposa, Tiziana, quando, às 3h36 da madrugada, o terremoto sacudiu Amatrice.

Ambos caíram da cama, com Bucci sobre Tiziana, e foram prensados pelo concreto armado do piso do andar de cima. A morte parecia próxima, porém, depois de horas de terror, o casal foi salvo pelo cunhado do empresário, Ivo, e por outras pessoas que escavaram com as mãos até encontrar os dois.

Bucci foi transportado de helicóptero para um hospital em L'Aquila, a 50 quilômetros de Amatrice, com traumas por esmagamento e dificuldades renais e passou por três operações na perna direita. "Por sorte, minha esposa estava sempre perto de mim e me ajudou", reforça o responsável pelo Ristorante Roma, que faz questão de creditar repetidas vezes sua sobrevivência a Tiziana e ao cunhado.

Renascimento - Já no hospital, Bucci começou a pensar na reabertura de seu restaurante, fundado em 1897. "Eu sou aqui de Amatrice, o restaurante está há mais de 100 anos em atividade, então sempre quis reabri-lo", conta.

Inaugurado em 29 de julho, o Area Food reúne oito restaurantes históricos de Amatrice, sendo que o "Roma" ocupa o maior espaço, em uma moderna estrutura de madeira e vidro. "Foi uma ideia do prefeito, ele quem nos deu isso aqui. É uma coisa belíssima, com um belo panorama, gostei bastante", acrescenta Bucci, lembrando de outro personagem que ele considera determinante para a cidade continuar viva, o prefeito Sergio Pirozzi.

"Muitas pessoas conseguiram empregos em Amatrice pois foram reabertos centros comerciais. Muitos trabalham em restaurantes, mercados. Graças a nosso prefeito. Se não houvesse esse prefeito em Amatrice, pouca coisa seria feita", relata.

O novo restaurante é menor do que o original, mas Bucci não reclama. Depois de sua batalha contra a morte, tudo o que ele tem é considerado lucro. "Me contento até com a menor coisa, como deveria ser com todos", diz. Amatrice, afirma o empresário, renasce pouco a pouco. Não voltará a ser como antes, afinal, centenas de pessoas morreram, outras centenas de prédios e casas foram destruídos.

Mas Bucci já faz planos para o futuro: reabrir o Hotel Roma e recuperar o legado centenário de sua família. "Quando puder reconstruir, é certo que o farei. Não se sabe quando, mas é um projeto reabrir o hotel junto com o restaurante", conta.

Enquanto isso, o empresário exalta a solidariedade de italianos e estrangeiros e comemora cada cliente que entra em seu novo restaurante. "Várias pessoas que já vinham antes estão voltando, e eu me emociono a cada vez que as vejo."