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Turismo força moradores a abandonarem Veneza

População reclama de depredação e falta de decoro de turistas

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Conhecida como "La Sereníssima", a cidade italiana de Veneza, uma das localidades mais conhecidas e visitadas do país, não está tão "serena" por conta do excesso de turistas que a visitam diariamente. De acordo com os dados oficiais do Instituto Italiano de Estatísticas (Istat), com informações coletadas no último levantamento feito em 2015, Veneza recebeu 10,2 milhões de turistas naquele ano, ficando atrás apenas de Roma (25 milhões) e Milão (11,7 milhões). O número foi 2% maior do que o registrado em 2014.

Com um longo histórico de grandes eventos que atraem turistas, como as Bienais de Arte e de Arquitetura, o Festival Internacional de Cinema e o famoso Carnaval, no entanto, a cidade tem ficado cada vez mais repleta de turistas e com muito menos moradores.

O centro histórico atingiu em 2016 seu recorde negativo histórico de moradores, com apenas 55 mil habitantes - contra 175 mil logo após a Segunda Guerra Mundial - e dados oficiais apontam que cerca de 2,6 pessoas abandonem a cidade a cada dia. Além de um problema velho conhecido da Itália, o fato de nascerem menos pessoas do que morrerem, o centro histórico enfrenta um "excesso" no turismo de massa, que fazem com que muitas pessoas deixem o local para morar em outros bairros mais afastados da cidade.

Só neste ano, diversas manifestações com mais de mil pessoas protestaram contra a "indústria do turismo", especialmente, contra aqueles que chegam aos milhares em cruzeiros transatlânticos.

Por conta disso, o governador do Vêneto, Luca Zaia, ameaçou restringir a quantidade de turistas que vão ao centro histórico diariamente e informou que está estudando a entrada dos navios pela bacia de San Marco.

Entre um dos projetos apresentados, será testado um controle de acessos à famosa Piazza San Marco, um passo que já é considerado uma "revolução" por Zaia.

Além da revolta dos moradores, especialmente por conta dos cruzeiros, o Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco chegou a ameaçar colocar a cidade na lista de "lugares de risco" por conta dos danos que as gigantescas embarcações podem causar aos frágeis prédios históricos.

- Turistas sem decoro: Outro fato que tem tirado a serenidade da cidade centenária é a falta de educação e de decoro de muitos dos viajantes que passeiam pelos canais e pelos prédios históricos de Veneza. Dezenas de casos de turistas que se jogam nas águas dos canais foram registrados desde o ano passado e, após seis deles se jogarem de uma vez só, no último dia 22 de julho, a Prefeitura decidiu agir.

Foi aprovado o aumento da multa para quem "violar o decoro" da cidade: as sanções chegam até 450 euros para quem nadar nos canais e de até 400 euros para quem jogar lixo no chão ou na água. Além disso, andar com o torso nu na capital do Vêneto renderá multa de 200 euros.

A ação ainda conta com uma campanha nas redes sociais, onde as autoridades pedem que os turistas respeitem a cidade: "#EnjoyRespectVenezia". Apesar de não ter nenhum caso de brasileiro envolvido na "quebra de decoro", a diretora-operacional da agência de turismo "CTC Tour", Elvira de Tommaso, informou que "sempre orienta" e "avisa muito" seus clientes em relação ao respeito das normas do país europeu para não haver problemas.

A italiana, dona da empresa especializada em pacotes para as cidades do país da bota, diz que "ainda bem" não registrou nenhum caso de problemas do tipo entre seus clientes. A questão dos comportamentos inadequados de turistas também atingiu em cheio a cidade de Roma e, por conta disso, a prefeita Virginia Raggi impôs uma série de sanções para pessoas que, por exemplo, entrarem na água das famosas fontes ou comerem nesse tipo de ponto turístico.