ASSINE
search button

Ofuscado por crise interna, Brasil assumirá Mercosul

Crise na Venezuela e acordo com UE estão na pauta do semestre

Compartilhar

Ofuscado no cenário internacional pela crise política interna, o Brasil assumirá nesta semana a Presidência rotativa do Mercosul e terá que enfrentar uma série de desafios na liderança do bloco, como a tensão na Venezuela e a tentativa final de acordo comercial com a União Europeia.

Michel Temer substituirá o presidene argentino, Mauricio Macri, que ficou à frente do Mercosul no último semestre. O Itamaraty afirma que o Brasil pretende continuar o trabalho da Argentina, a qual eliminou barreiras comerciais entre os países-membros. Os líderes do bloco se reunirão entre amanhã (20) e sexta-feira (21), em Mendonza, para a cúpula do organismo. Confira os principais pontos: 1. Acordo comercial com a União Europeia: As negociações para um acordo bilateral entre a União Europeia e o Mercosul deve dar o tom da Presidência brasileira, já que líderes de ambos os lados esperam que o pacto seja fechado até o fim deste ano.

As complicadas negociações do acordo foram iniciadas em 1999, interrompidas em 2004 e reiniciadas em 2010, em um projeto que envolve tanto bens e serviços como investimentos em geral. Em nota divulgada pelo Planalto, o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marco Pereira, afirmou que "avançar as negociações" será a principal meta da Presidência do Brasil. "Acredito que até o final do ano já teremos um acordo desenhado e em condições de ser fechado. A União Europeia é um mercado de mais de 500 milhões de consumidores. O acordo vai trazer muitas oportunidades para o setor produtivo de todo o Mercosul. [...] Tenho certeza que esta será mais uma importante contribuição para a retomada do crescimento econômico brasileiro", disse Pereira.

Consultado pela ANSA, o coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel, contou acreditar que esse acordo será finalizado mesmo com a crise política que ocorre em Brasília.

"É possível, sem dúvida. Eu acho que existe um interesse mútuo de avançar com isso e as chances são relativamente boas porque Argentina e Brasil estão interessados em concluir esse acordo", disse o especialista.

Pelo fato do documento ser feito por "equipes técnicas que trabalham de forma independente", Stuenkel acredita que as turbulências em Brasília não vão afetar as negociações. Já o professor Reinaldo Dias, especialista em Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas, aponta que as "turbulências" de Brasília podem afetar as negociações, destacando que o "enfraquecimento do Brasil" no cenário internacional é prejudicial para a América Latina. "Nossa ausência em termos de liderança na América Latina está prejudicando também o continente em termos globais", destaca Dias à ANSA.

2. Crise na Venezuela: A crise na Venezuela deve ser o principal problema político a ser enfrentado pelo Brasil. Além da série de crises do ano passado, que culminaram com a suspensão da Venezuela do bloco, o presidente Nicolás Maduro convocou uma Assembleia Constituinte para o próximo dia 30 de julho.

A medida, duramente criticada pelos principais governos do mundo e da região, deve agravar a crise política, econômica e humanitária enfrentada pelo país vizinho. Distantes ideologicamente de Maduro, os presidentes do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina devem manter o país fora da das decisões do bloco.

Nesta quarta-feira (19), um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) mostrou que 52 mil venezuelanos já pediram refúgio em outras nações para fugir da crise no país. Destes, 18,3 mil solicitaram asilo aos Estados Unidos e 12.960 pediram refúgio ao Brasil. 3. Crise política no Brasil e força argentina: Apesar de ser um problema interno, a crise política em Brasília pode ter efeitos no Mercosul. A análise da denúncia contra Temer, que está marcada para o início de agosto, pode resultar no afastamento do presidente, causando também uma mudança no bloco econômico.

Com isso, e como já vem ocorrendo nos últimos meses, a força do presidente Macri pode ganhar ainda mais impulso. "Realmente, a gente vê uma inversão de papéis sobretudo na primeira década do século 21, que tinha um Brasil em ascensão e uma Argentina mais enfraquecida, mas agora a gente vê uma inversão de papéis", diz Stuenkel sobre a questão envolvendo os dois países.

"Mas, no fundo, mesmo com algumas pessoas se preocupando com o fato da Argentina ter mais visibilidade que o Brasil, acho que é importante ressaltar que é melhor assim do que ter todos os países em crise, o que levaria a América do Sul a ficar ausente em todos os debates", complementa.

4. Outros acordos comerciais: Apesar das questões políticas, a Presidência brasileira deverá ser centrada na recuperação econômica do bloco e as relações e acordos internacionais no setor, como ocorreu desde a liderança de Macri.

Além do foco no acordo com a União Europeia, os debates também serão focados em outras parcerias, como no caso de um pacto de livre comércio do Efta, que reúne países europeus que está fora da zona do euro e uma tentativa de aproximação com a Aliança do Pacífico.

Também estarão na pauta as conversas para acordos bilaterais com países específicos, como Canadá, Japão e Coreia do Sul.