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No Egito, Papa encontrará minoria cristã perseguida pelo EI

No entanto, coptas contam com proteção do presidente al-Sisi

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Perseguidos pela ala egípcia do Estado Islâmico (EI), mas respeitados pelo presidente Abdel Fattah al-Sisi - que salvou a minoria da discriminação da Irmandade Muçulmana: também é essa uma das faces da comunidade copta que receberá de braços abertos o papa Francisco na sua visita de dois dias ao Cairo (28 e 29 de abril).    

A viagem acontece menos de três semanas depois dos dois atentados kamikazes, reivindicados pelo EI, contra duas igrejas coptas no dia do Domingo de Ramos. Os ataques deixaram 47 mortos e cerca de 120 feridos no delta do Nilo - sendo 30 em Tanta e os demais em Alexandria.    

Foi o ataque mais sanguinário da história recente contra os coptas, que representam entre 10% e 15% dos mais de 90 milhões de egípcios e que são a maior comunidade cristã no Oriente Médio.    

O balanço de vítimas superou o do lançamento de uma bomba contra a Igreja de São Pedro, no Cairo, no dia 11 de dezembro do ano passado, quando 27 pessoas morreram.    

Esse foi o sinal do início da perseguição aos coptas, depois anunciada em vídeo pelo EI em fevereiro, realizada também com o assassinato de oito cristãos na área nordeste do Sinai entre janeiro e fevereiro. Uma série de homicídios, também por meios horríveis, que causaram o terror e o êxodo no Sinai de mais de 200 famílias (cerca de mil pessoas).    

Trata-se de uma campanha terrorista que quer "atingir a unidade nacional", declarou a igreja copta, que apoia o governo de al-Sisi. O agora presidente tem o apoio da minoria porque, quando era general do Exército, em 2013, ele liderou uma revolução popular-militar que salvou os cristãos do risco de se tornarem cidadãos de "segunda divisão" em um estado islamizado pela Irmandade Muçulmana.    

O atual mandatário, que depois dos atentados reinstalou o estado de emergência por três meses, há tempo busca reduzir o fundamentalismo ligado, em parte, ao ensino religioso islâmico.    

Para isso, ele autoriza a restauração de igrejas atingidas por atentados, visita sempre a Catedral Ortodoxa de São Marcos, no Cairo, na ocasião do Natal copta e, na nova capital administrativa, cofinancia com os próprios recursos a construção de uma igreja no mesmo paralelo com uma mesquita.    

"Rezemos pelo Egito, nossa querida pátria, e pelo seu presidente", destacou o patriarca católico egípcio Abramo Isacco Sidrak em uma mensagem publicada por ocasião da Páscoa e da viagem ao papa Francisco.    

Apesar disso, no país ocorrem vários tipos de violência ligadas às disputas para a construção de igrejas, conversões ou relações interconfessionais sobretudo nas vilas da parte mais meridional do país e mais pobre do Egito. Mas, não se registram os chamados pogrom - quando um grupo ou minoria é perseguida por motivos étnicos e religiosos. A última ação de tal tipo foi registrada em 2013, quando mais de 40 igrejas foram queimadas por conta da repressão provocada pelo presidente Mohammed Morsi.    

Ao falar com os cristãos no Egito, no entanto, sente-se muito a discriminação não explícita em leis, mas difundidas na região do Alto Egito. Também há muita reclamação sobre uma polícia que demora muito e não está pronta para protegê-los de extremistas, como ocorreu nos ataques de Tanta e Alexandria.    

A Justiça, ao menos nos casos mais clamorosos, é sempre severa. Para o incêndio de uma igreja copta nos arredores do Cairo, há cerca de dois anos, foram condenados à prisão perpétua 71 apoiadores da Irmandade Muçulmana.