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Trabalhadores rejeitam plano, e companhia aérea italiana arrisca falência

Acordo com sindicatos previa a demissão de quase 1 mil pessoas

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Por meio de um plebiscito, os funcionários da Alitalia rejeitaram um pré-acordo entre sindicatos e a diretoria que previa a demissão de quase 1 mil pessoas para salvar a maior companhia aérea da Itália da falência.

O "não" recebeu 6.816 votos (68%), contra 3.206 do "sim" (32%), abrindo caminho para a liquidação da empresa. A votação foi realizada entre 20 e 24 de abril, nos principais aeroportos do país, onde os trabalhadores puderam se expressar sobre o pacto, que foi mediado pelo governo e alcançado após semanas de negociações.

Em março passado, a Alitalia havia anunciado um plano industrial para o quadriênio 2017-2021 que previa cerca de 2 mil demissões, a maioria delas na equipe de terra e de escritórios. Após diversos protestos e uma greve de 24 horas em 5 de abril, a companhia aceitou reduzir o corte para 980 funcionários e assinou o pré-acordo com os sindicatos para submeter a medida a plebiscito.

O pacto também estabelecia o corte de um tripulante nos voos de longa distância e a diminuição dos dias de repouso do pessoal de bordo de 120 para 108 ao ano, com um mínimo de sete por mês. Ao todo, a empresa possui cerca de 12,5 mil trabalhadores, sendo que 5,2 mil integram a equipe de bordo.

Com a recusa do pré-acordo, o conselho de administração da Alitalia deve se reunir nesta terça-feira (25) para formalizar o pedido para que o governo nomeie um comissário para encerrar as atividades da empresa, vendê-la a uma terceira parte ou até deixá-la em funcionamento, tentando recuperá-la.

Devido ao fato de um eventual comprador ter de manter os 12,5 mil funcionários por pelo menos dois anos e ao elevado endividamento da companhia aérea, a hipótese mais provável é a da falência. Caso o "sim" vencesse, o conselho de administração se reuniria para autorizar uma recapitalização de 2 bilhões de euros, o que aumentaria sua liquidez.

Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento Econômico Carlo Calenda já havia dito que uma eventual vitória do "não" causaria um "risco bastante concreto de liquidação da companhia" - o governo não tem a intenção de colocar mais dinheiro público no grupo.

Crise

Parcialmente privatizada, a Alitalia é comandada atualmente pela holding Compagnia Aerea Italiana (CAI), que detém 51% de seu capital, e pela empresa árabe Etihad Airways, dona dos 49% restantes. A segunda principal acionista da CAI é a empresa pública de correios Poste Italiane, com quase 19,48% de participação na holding, atrás apenas do banco privado Intesa Sanpaolo (20,59%).

Uma eventual quebra poderia ter repercussões negativas sobre o governo italiano, que ainda luta para tirar o país da crise e para reduzir seus elevados índices de desemprego, principalmente entre os jovens Em 2009, a Alitalia esteve para ser vendida para o grupo franco-holandês Air France-KLM, mas a operação foi bloqueada pelo então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que reuniu um pool de empresas italianas - a CAI - para comprá-la. Contudo, nos anos seguintes, as firmas em questão não foram capazes de realizar os investimentos para levantar a companhia aérea.

Entre 2013 e 2014, a Alitalia ficou à beira da falência, porém foi salva por uma injeção de capital da Etihad, que passou a ter 49% de suas ações e prometeu recuperá-la. No entanto, a empresa italiana sofreu prejuízo de 400 milhões de euros em 2016, um resultado que é fruto de sua estratégia de apostar nas rotas de curta e média distância - menos lucrativas -, deixando de lado os trechos longos.

Além disso, a Alitalia não possui alianças com nenhuma outra grande companhia aérea europeia, o que dificulta a competição internacional contra grupos como Air France-KLM e Lufthansa.