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'The Economist': Um peronista no Potomac

Editorial descreve Donald Trump através dos olhos latino-americanos

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Um editorial da britânica The Economist publicado nesta terça-feira (21) fala sobre a visão que os latino-americanos tem de Donald Trump. 

O texto se inicia descrevendo que um presidente foi arrastado para o cargo depois de uma onda de reclamações e ressentimentos. Ele afirma representar "o povo" contra exploradores internos e ameaças externas. Ele pretende "refundar" a nação e condenar aqueles que o precederam. Ele governa em clima de confrontação e polarização, aponta The Economist. Sua linguagem é agressiva - os adversários são marcados como inimigos ou traidores. Ele usa a mídia para cimentar sua conexão com as massas, ao mesmo tempo em que se afasta do jornalismo crítico e rejeita o poder executivo. Suas políticas se concentram em trazer benefícios de curto prazo para sua base política e suspender o custo de longo prazo para a estabilidade econômica do país.

The Economist pergunta: Donald Trump? Sim, mas essas características vêm diretamente do manual do nacionalismo populista latino-americano, uma tradição que vai desde o argentino Juan Perón até o venezuelano Hugo Chávez e mais além. Sim, o Sr. Trump é um capitalista bilionário, enquanto Chávez era um oficial do exército anticapitalista, diz o artigo. Mas o populismo não é sinônimo de esquerda: conservadores como o peruano Alberto Fujimori usaram suas técnicas também. 

A política de "pós-verdade" e os "fatos alternativos" têm sido implantados na América Latina, desde o uso de tablóides por Fujimori até manchar oponentes, os golpes imaginários de Chávez e as falsas estatísticas de inflação de Cristina Fernández Kirchner na Argentina, lembra The Economist.

> > A Peronist on the Potomac

Assim, avalia The Economist, quando contemplam as primeiras semanas de Trump na Casa Branca, muitos democratas liberais latino-americanos acham que já viram esse filme. E eles sabem que geralmente acaba mal. Alguns dos próprios populistas do continente, em contrapartida, reconhecem Trump como um espírito livre. 

Nicolás Maduro, sucessor ditatorial de Chávez, criticou a "campanha de ódio" contra Trump - antes que os Estados Unidos incluíssem na semana passada o vice-presidente da Venezuela como chefe da droga (uma acusação que Maduro chamou de "sem fundamento"). Guillermo Moreno, ex-funcionário encarregado por Fernández de produzir as estatísticas da Argentina, identificou "um peronista" em Trump, "que está tentando fazer o que fizemos".

The Economist destaca que não é apenas o ataque do Sr. Trump à economia mexicana e à dignidade nacional, com suas ameaças de destruir o Acordo de Livre Comércio da América do Norte e construir um muro de fronteira com o qual os latino-americanos devem lidar. A questão mais importante para a região é o que Trump representa na batalha das idéias políticas. O risco é que ele possa legitimar novamente o nacionalismo populista quando ele estava diminuindo para o sul da fronteira. Isso é especialmente verdade no México, onde Andrés Manuel López Obrador, que lidera pesquisas de opinião para a eleição presidencial de 2018, agora fala de "a pátria em primeiro lugar". Até mesmo o Chile pode não estar imune: Alejandro Guillier, um ex-apresentador de televisão que se orgulha de um vínculo especial com "o povo", tem uma chance para a eleição de novembro.

The Economist ressalta que Trump está ajudando a tornar a vida mais difícil para aqueles na América Latina que argumentaram, diante do nacionalismo instintivo da região e do antiamericanismo, que seus melhores interesses são servidos pela cooperação com os Estados Unidos e uma ordem mundial liberal . "Poderíamos todos apostar no livre comércio, nos mercados livres e na estabilidade macroeconômica, em parte porque os Estados Unidos acreditavam nela, tanto os democratas como os republicanos", diz Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento. "Agora há forças protecionistas no mundo, e isso ressoa na região".

Uma medida seria a América Latina procurar outros parceiros. Embora o interesse em laços mais profundos com a Europa (tanto a União Europeia e Brexit Grã-Bretanha)seja possível, a China é a principal esperança. Já é um grande parceiro comercial e está investindo em infra-estrutura na região, avalia The Economist.

A melhor resposta para Trump seria que os liberais latino-americanos tivessem coragem para suas convicções. Eles devem manter suas economias abertas e realizar várias tarefas que negligenciaram. Estes incluem a construção de mais infra-estruturas e a promoção de uma maior integração regional, que os populistas minaram transformando-a num slogan político e não em uma realidade empresarial.

A experiência latino-americana ensina que os populistas são facilmente subestimados e podem permanecer no poder por muito tempo. Mas não para sempre. Os regimes populistas costumam ser corruptos e gastadores, e geralmente não conseguem fazer as pessoas melhorarem de verdade. Seja qual for o exemplo da Casa Branca, a história latino-americana mostra que o nacionalismo populista é uma receita para o declínio nacional. Essa é a mensagem que os liberais precisam ter em mente, finaliza The Economist.

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