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Conheça Gina Miller, a mulher que pode parar o 'Brexit'

Ativista está liderando batalha legal contra governo no Supremo

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Ativista e cofundadora de um fundo de ações, Gina Miller é a "mulher do momento" em Londres. Ela lidera um grupo de cidadãos que se dirigiram à justiça contra a vontade da premier Theresa May de ativar o "Brexit", a saída dos britânicos da União Europeia.

A Corte Suprema, que tem a última palavra, decidirá com seus 11 juízes na terceira semana de janeiro se confirma ou anula o veredicto de primeira instância que, há algumas semanas, rechaçou que o governo tomasse sozinho a decisão, sem submetê-la à decisão do Parlamento.

As audiências foram encerradas nesta quinta-feira (8) e agora, nesse tempo de espera, Miller se mostra confiante em obter a vitória. Mesmo com uma moção aprovada pela Câmara dos Comuns, de que a maioria está a favor de dar a luz verde para a negociação com a União Europeia nos tempos previstos, ou seja, no fim de março.

"A sentença será convincente. Esta apelação [do governo] é só uma perda de tempo, a demonstração de que o governo não tem plano de ação e que, na verdade, não pensa em ganhar o recurso.

Não temos dúvidas de que nós venceremos", disse Miller à ANSA.

Mas, por suas ações, a ativista tem recebido ameaças de morte e insultos racistas. Nesta semana mesmo, foi divulgada uma notícia de que um de seus "stalkers" foi preso. Há semanas, ela e seus familiares estão sendo obrigados a viver sob escolta.

"Neste momento, sou a mulher mais odiada do Reino Unido", enquanto recebe a ANSA para uma entrevista em seu novo "refúgio", uma oficina sem ventilação no interior do Michelin House, em Chelsea.

"Não esperava esse nível de irracionalidade, esta incapacidade de discutir. É tudo branco ou preto e é contaminado pelas emoções. É esse extremismo que desencadeou tanto ódio. Mas, sigo acreditando que isso foi correto", disse.

Alguns reprovam sua atitude por criticar que ela não está respeitando a legitimidade democrática do resultado, mas Miller rebate dizendo que o Reino Unido "não tem uma democracia direta, por isso, os referendos não são vinculantes".

"Nós elegemos nossos representantes, que estão no Parlamento chamados a legislar. O sistema político britânico funciona assim. Se depois disso, o Parlamento votar pela saída, então sairemos da União Europeia", destaca.

Miller ainda critica os dois lados da campanha que "mentiram" sobre pontos do Brexit e que, por isso, não houve um debate legítimo sobre o tema. "Se ganhar essa causa, finalmente, haverá a ocasião para ao menos ter um debate maduro nas duas Casas", acrescentou.

Ao ser questionada se o referendo do dia 23 de junho produziu um resultado inesperado, também foi uma surpresa a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.

"A analogia que mais me preocupa é que os políticos instrumentalizaram as legítimas inquietudes das pessoas. Mas, dentro de dois ou três anos, quando ficar claro que suas promessas não são realizáveis, eles liberaram perigosos elementos de raiva na sociedade. E, nesse momento, o que acontecerá?", indaga.

Aos 51 anos e nascida na Guiana, mãe de três filhos, com sucesso nos negócios e comprometida também com projetos de "solidariedade social", muitos esperam que ela entre no mundo da política. "Não duraria nem uma hora na política porque não sei fingir, não estou alinhada e digo o que penso. Não saberia como viver em um partido. Nosso sistema político está podre e tem algo profundamento equivocado", finaliza.