ASSINE
search button

'Clarín': Macri é o próprio ministro da economia de seu governo

Matéria diz que presidente argentino reconheceu que é ele quem manda na área econômica

Compartilhar

Matéria publicada nesta terça-feira (26) no jornal argentino Clarín conta que Mauricio Macri tem sido, na pratica, o 'superministro da Economia', alvo de grandes reclamações dos setores empresariais e economistas argentinos. Prestes a completar oito meses no governo, a pasta econômica foi praticamente dividida em quatro áreas – Fazenda e Finanças, Interior e Obras, Produção e Energia. E ele tem obedecido, segundo suas afirmações, a independência do Banco Central. O presidente deu uma série de entrevistas nos últimos dias à imprensa local.

“É daqui que se coordena tudo”, disse Macri ao jornalista Joaquín Morales Solá, do La Nación, deixando claro que é ele quem manda na economia argentina.

“Os ministros da área econômica costumam acreditar pouco na independência do Banco Central. Mas eu devo dar o exemplo”, acrescentou.

De acordo com o Clarín as declarações de Macri foram feitas em um momento de fortes disputas entre o ministro da Fazenda e Finanças Alfonso Prat-Gay e o presidente do Banco Central Federico Sturzenegger, como contam assessores nos bastidores. Os motivos das disputas na atual equipe argentina são conhecidas de longa data no Brasil – reduzir ou não as taxas de juros para controlar a inflação ou evitar a recessão.

“Às vezes pergunto ao Sturzenegger se a taxa de juros não deveria cair. E ele me diz que não. E eu o respeito”, disse Macri.

Segundo jornal argentino, nas entrevistas Macri reclamou do 'ego' na política em geral, o que foi interpretado como alfinetada nas disputas internas na sua equipe, principalmente na área econômica. O ex-presidente do Banco Central Martin Redrado, que deixou o governo de Cristina Kirchner acusando interferências no BC, acredita que a inflação cairá no último trimestre deste ano, mas no mesmo ritmo, disse, que também cairá o consumo.

“Mesmo assim, a inflação mensal será de cerca de 2% e não de 1,5% e seria um erro esfriar ainda mais a economia”, disse Redrado.

O Clarín revela que um levantamento semanal realizado pela consultoria Management y FIT, de Buenos Aires, com data do último dia 22 de julho, indicou que a economia argentina continua “esfriando”. De acordo com o levantamento, a queda das vendas nos shoppings foi de 16% em maio na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Nos supermercados, a retração foi de 13% e as empresas médias registraram quedas nas vendas acima de 9%.

“E tudo isso apesar das promoções e recuo nos preços. A retração pode estar sinalizando que os aumentos (no varejo) foram exagerados (diante de custos e outros fatores, logo depois que Macri assumiu)”, escreveram os economistas.

A reportagem do jornal argentino diz que segundo o INDEC (equivalente ao IBGE) somente em junho a inflação foi de 2,9%. No mesmo mês, o consumo nos supermercados caiu 6,4% e a pobreza cresceu 3%. Quase todos os setores sentiram a retração da economia – em grande parte alimentada pelo aumento das tarifas dos serviços públicos. A venda de material de construção, por exemplo, despencou mais de 20%. O índice que mede a inflação da cidade de Buenos Aires indicou que somente nos primeiros seis meses deste ano a alta foi de quase 30% (29,2%) na comparação com o mesmo período do ano passado. Economistas de diferentes tendências concordam que a inflação este ano superará os 30% e a promessa de Macri de que os argentinos perceberiam a reativação econômica a partir deste segundo semestre nao será cumprida. Agora, o governo espera que a economia cresça em 2017 – oficialmente 3,5%, segundo o ministério da Fazenda e Finanças.

“A Argentina era um avião que caia. Estamos estabilizando a aeronave no meio da escuridão porque também tinham destruído os instrumentos”, disse Macri, criticando mais uma vez a herança deixada por sua antecessora Cristina Kirchner.

O Clarín finaliza afirmando que para dar o exemplo, como ele diz, Macri tem evitado ligar o aquecedor no gabinete presidencial, apesar das baixas temperaturas desta época do ano. Ele acha que os argentinos devem se reeducar porque a energia deixou de ser barata no país. Foi ela, a energia, um dos motivos dos panelaços registrados há dez dias em diferentes pontos da Argentina. Aqueles panelaços contra o aumento das tarifas dos serviços públicos, aplicado no governo atual, indicaram que as críticas à herança podem ter um limite.