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'El país': Os últimos dias das FARC na guerra da Colômbia

Guerrilheiros vivem placidamente após décadas de terror, alheios ao mundo

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El País traz em sua edição deste domingo (24) uma matéria onde conta que nas montanhas da Colômbia, o final da guerra civil é comemorado ao ritmo de rancheras, vallenatos e muita cumbia. O silêncio dos fuzis, das bombas e do terror trouxe de volta à selva o som dos Los Rebeldes del Sur, banda composta por guerrilheiros das FARC. No primeiro fim de semana de julho, sobre um palco de madeira em algum lugar da região de Putumayo, eles celebravam com um show o cessar-fogo bilateral definitivo entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o Governo do país. Durante anos, o som teria funcionado como um chamariz para um bombardeio do Exército. Agora, serve para levar mais ou menos meia centena de guerrilheiros a caírem na festa. Livres de uma vida de chumbo, alheios ao abismo de um futuro incerto.

Segundo reportagem do espanhol El País no último ano, a guerrilha mais antiga da América Latina, alçada em armas desde 1964, se abriu ao mundo. Desde que cessaram os bombardeios, em agosto de 2015, as FARC se empenham em apresentar um lado amável, após mais de 50 anos de um conflito que deixou um saldo retumbante: oito milhões de vítimas, entre mortos, feridos, refugiados internos e desaparecidos… Um macabro rastro que Governo e insurgência esperam deixar para trás nas próximas semanas com a assinatura de um acordo de paz definitivo. Depois de quase quatro anos de negociações, e à medida que o desenlace ia ficando mais nítido, as FARC se tornaram mais acessíveis, não só em Havana, onde os negociadores se acostumaram a tratar com a imprensa, mas também no terreno, sempre preservando os parâmetros de segurança e sendo muito sucintos nas orientações. Apenas um e-mail indica, com poucos dias de antecedência, o ponto da Colômbia ao qual comparecer. Neste caso, o encontro é em Mecaya, um distrito na região de Putumayo, aonde se chega após quatro horas de lancha a partir da cidade mais próxima.

O jornal fala em seu texto que em Mecaya, ninguém estranha a presença dos desconhecidos que se instalam num salão de sinuca. Pressupõe-se que, se estão ali, é porque têm a autorização de quem controla o lugar. No território das FARC, todos olham, mas ninguém pergunta. Nem sequer a proprietária do local, que cumprimenta alegremente e oferece café. Após algumas horas, e ao ficar a par da situação, dá uma palmadinha no ombro do repórter. “Eles já vêm. Os camaradas sempre vêm.”

El País destaca que Antes, na linguagem de Corena, não significa muito tempo atrás. Um mês depois de as FARC iniciarem um cessar-fogo unilateral, em julho do ano passado, o Governo suspendeu os bombardeios contra os acampamentos e reduziu a pressão sobre o terreno. Com o tempo, a trégua se instalou verdadeiramente nas vidas dos guerrilheiros. Os mais de 50 combatentes que convivem neste acampamento não saem daqui há dois meses. Nunca tinham permanecido tanto tempo no mesmo lugar. “Deveríamos conservá-lo tal qual está quando formos embora”, repetirá várias vezes Yudi, de 34 anos, quase 19 deles nas FARC, vestida com uma camiseta rosa-choque. Durante anos, a discrição no vestir foi regra, para evitar chamar a atenção dos aviões militares. Agora, as roupas são os primeiros sintomas de mudança. As cores chamativas abundam entre homens e mulheres, assim como as camisas de times: Manchester City, Alemanha, Barcelona e, como não, a onipresente 10 do Real Madrid, cujo dono atual é o colombiano James. Até na selva.