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Papa volta a desagradar a Turquia, que convoca diplomata

Na Armênia, Francisco lamentou o genocídio armênio

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A Turquia convocará o representante do Vaticano em Ancara para expressar seu "mal estar" após o papa Francisco voltar a tratar do massacre de armênios em 1915 como "genocídio", escreveu o jornal local "Hurriyet", citando "fontes confiáveis" da Diplomacia turca.

    No primeiro dia de sua visita oficial à Armênia, na sexta-feira, Francisco não se intimidou em usar a palavra "genocídio" para se referir ao extermínio de armênios pelo Império Otomano há cerca de um século, mesmo sabendo que o vocábulo poderia desencadear um mal-estar diplomático, como já ocorreu no ano passado. A Santa Sé não previa o termo "genocídio" nos discursos de Francisco, porém o líder católico não quis renunciar à palavra e a pronunciou em alto e bom som, na capital Erevan, dentro do Palácio Presidencial, diante das autoridades armênias. 

Além disso, o Pontífice visitou o Memorial do Genocídio, localizado em Tzitzernakaberd, no dia seguinte, onde disse que "a memória não deve ser diluída, nem esquecida". Em declaração conjunta com o patriarca Karekin II, Francisco voltou ao tema neste domingo, dia 26, e disse que o "extermínio de 1,5 milhão de cristãos armênios" foi o "primeiro genocídio do século XX". O governo turco não reconhece o episódio histórico e não admite o uso do termo "genocídio". A Turquia nega que o massacre dos armênios durante a I Guerra Mundial se trate de um genocídio planejado e calcula que o número de vítimas seja bem menor, entre 250 e 500 mil.

    "Na Argentina, quando se falava do extermínio armênio, sempre se usava a palavra genocídio. Eu não conhecia outra. E na catedral de Buenos Aires, no terceiro altar à esquerda, colocamos uma cruz de pedra recordando 'o genocídio armênio'", explicou o Papa quando voltava da Armênia, a jornalistas a bordo do avião papal.

    As declarações do papa Francisco foram classificadas pelas autoridades de Ancara como "lamentáveis". Ainda segundo o vice-premier da Turquia, Nurettin Canikli, a fala indica a persistência da "mentalidade das Cruzadas". "Não é um ponto de vista objetivo, que corresponda com a realidade", acrescentou. "É possível observar todas as marcas e reflexões características da mentalidade das Cruzadas nas atividades do Papa", concluiu. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, respondeu dizendo que o Papa "não faz cruzadas". "Se escutarmos ele, veremos que não há nada que evoque um espírito de cruzada. Sua vontade é construir pontes, ao invés de muros. Sua intenção real é construir as bases para a paz e a reconciliação", disse, em coletiva de imprensa. 

"Francisco rezou pela reconciliação de todos, não pronunciou nenhuma palavra contra o povo turco", acrescentou o representante católico. Esta não é a primeira vez que o governo de Recep Tayyip Erdogan toma uma atitude do tipo. No ano passado, Francisco causou o descontentamento de Ancara ao considerar a morte dos armênios o "primeiro genocídio do século XX". Após as declarações, o embaixador do Vaticano na Turquia, Antonio Lucibello, foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores de Ancara para dar explicações sobre a fala do Papa.

    Na conversa, as autoridades turcas quiseram expressar "sua decepção" pelas palavras de Jorge Mario Bergoglio. (ANSA)