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'WSJ': Cicatrizes econômicas explicam corrida eleitoral bizarra nos EUA

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O jornal The Wall Street Journal desta terça-feira (31) publicou uma matéria onde procurar explicar o clima político bizarro observado nos Estados Unidos, através da recessão iniciada em 2007 e a crise financeira de 2008-2009, que amedrontaram e traumatizaram os eleitores americanos de uma maneira mais profunda e mais permanente do que se constatou antes. É verdade que as estatísticas econômicas dizem que houve uma recuperação — que foi até relativamente boa. Mas, mentalmente, muitos americanos nunca se recuperaram e talvez nunca se recuperem. A experiência mudou suas atitudes sobre os sistemas político e econômico e sobre os seus líderes, e os deixou dispostos a considerar alternativas arriscadas. O que o país está experimentando “é a diferença entre uma batida de carro e ver sua casa pegar fogo”, diz Peter Hart, que faz pesquisas de opinião para o Partido Democrata, o mesmo do presidente Barack Obama. “Uma batida de carro é algo que desaparece depois de três ou seis meses. Ver sua casa pegando fogo é algo de que jamais se esquece. Fica para sempre e não há meia-vida.”

Segundo a reportagem, a novidade aqui não é que a recessão foi traumática, é claro, mas sim a nascente percepção de que suas sequelas psicológicas foram tão profundas e duradouras. E por que isso está ficando mais claro agora, ao contrário de quatro anos atrás, quando um presidente em exercício foi reeleito com relativa facilidade? Em 2012, diz Hart, “os americanos ainda estavam saindo do buraco”. Hoje, eles já saíram do buraco, mas ainda estão sentindo uma ressaca que não passa. E estão agindo de acordo. Esse efeito retardado explica como é possível que tantas pessoas supostamente inteligentes tenham fracassado tão completamente em prever o que viria pela frente na campanha presidencial americana de 2016. Explica o poder renitente do senador Bernie Sanders no lado Democrata, as dificuldades de Hillary Clinton nesse mesmo lado, a derrocada de toda uma série de candidatos aparentemente fortes, mas totalmente convencionais no campo Republicano e, é claro, a ascensão impressionante de Donald Trump. Eis uma maneira de compreender a situação: não é bem que o país tenha escolhido Trump e Clinton — presumindo que ela sobreviva à disputa nas prévias — como as duas melhores alternativas. Seria mais correto dizer que estes foram os candidatos que restaram, ao final de um processo de eleições primárias em que as outras alternativas foram descartadas.

O Journal diz que as opiniões altamente negativas sobre esses dois candidatos indicam que os americanos ainda não estão encontrando as respostas que vêm procurando. A atitude de Trump se ajusta à época atual, mas seu temperamento não é realmente adequado; Hillary muito competente, mas também representa um pouco demais a época e o sistema que os americanos querem deixar para trás. As cicatrizes podem não estar totalmente curadas em 2016, assim como não estavam em 2012. Há dados que sustentam essa explicação abrangente para a campanha de 2016. Nominalmente, a economia dos EUA vem se expandindo há seis anos e meio, bem acima da média para as recuperações econômicas do pós-guerra. Essa mesma economia gerou novos postos de trabalho durante 74 meses seguidos.

Ainda assim, a pesquisa do The Wall Street Journal/NBC News constatou que a visão que os americanos têm do caminho que o país está seguindo se tornou, na verdade, mais sombria durante o curso da recuperação econômica. No início de 2009, quando a crise financeira estava a todo vapor, mas temperada pelo otimismo que acompanhou a posse de Barack Obama, 59% dos americanos entrevistados achava que o país estava no caminho errado, finaliza o texto do WSJ.