Matéria publicada nesta terça-feira (3) no The Wall Street Journal, conta que na campanha que o presidente da China, Xi Jinping, está empreendendo para mobilizar o país contra as ameaças à segurança nacional, o alvo mais recente são os espiões. Nas últimas semanas, o governo ampliou drasticamente os apelos para que seus cidadãos fiquem vigilantes, até mesmo os mais jovens, com escolas organizando jogos como “Descubra o Espião”.
Segundo a reportagem, em Pequim, pouco antes do Dia da Educação sobre a Segurança Nacional, celebrado em meados de abril pela primeira vez na história do país, voluntários distribuíram milhares de guarda-chuvas que exibiam o número para o qual as pessoas deveriam ligar se percebessem alguma ameaça. Cartazes foram colados em complexos residenciais e estações de metrô, mostrando uma história em quadrinhos sobre um estrangeiro que se passava por acadêmico e convencia sua namorada chinesa a revelar segredos de Estado. As várias campanhas alertam sobre outros possíveis disfarces, inclusive consultores e investigadores comerciais.
O Journal diz que desde que Xi assumiu o poder, em 2012, o país tem procurado reforçar a segurança doméstica, inclusive com a aprovação de uma lei de contraespionagem e outra sobre segurança nacional, no ano passado. Essa ênfase se manifesta num momento em que Xi tenta fortalecer o poder do Partido Comunista e a coesão social em meio a dificuldades econômicas.
O governo afirma que a lei de segurança nacional era necessária para combater ameaças crescentes, desde crimes cibernéticos até o terrorismo.
“Nós, pessoas comuns, precisamos abrir nossos olhos e proteger os interesses vitais da nação”, disse uma autoridade da área de segurança na cidade de Tianjin, onde um cartaz incita os moradores a “construir uma Grande Muralha de Ferro e Aço”.
Zhang Lifan, historiador e especialista em políticas da China, diz que a ênfase na vigilância parece refletir uma insegurança dentro do Partido Comunista, que, sob o comando de Xi, tem procurado estimular o patriotismo e incutir nos cidadãos os “valores socialistas essenciais”.
“A lei de segurança nacional é, na verdade, uma lei de segurança para o partido no poder”, diz Zhang, acrescentando que a sociedade chinesa vem se tornando cada vez mais fragmentada segundo critérios de riqueza e privilégios.
Em 2015, a taxa de crescimento econômico atingiu seu nível mais baixo em 25 anos, enquanto agitações trabalhistas se tornam mais comuns no país.
“Antigamente, a ideia de ‘inimigo’ não era definida de forma tão ampla”, diz Zhang. À medida que a sensação de crise entre os líderes se intensifica, “eles veem mais e mais inimigos”.
WSJ finaliza o texto falando que a xenofobia era algo arraigado na China nos tempos do líder Mao Tsé-Tung, quando o país tentava se livrar de influências estrangeiras e membros de uma mesma família eram encorajados a denunciar uns aos outros. Na era pós-Deng Xiaoping, a China esteve mais concentrada em se abrir, explica Zhang, que diz não se lembrar de nenhuma época, desde a Revolução Cultural liderada por Mao, em que o medo de espiões estrangeiros tenha sido tão amplificado quanto recentemente.
Alguns usuários das redes sociais elogiaram as iniciativas do governo. “Há muitos traidores contra a China — no futuro, devemos tomar cuidado com essa segunda e terceira geração de chineses nascidos no exterior que voltam para trabalhar”, escreveu um usuário do Weibo, o equivalente chinês do Twitter.