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União civil gay opõe Igreja e governo na Itália

Matteo Renzi rebateu declaração de cardeal sobre votação secreta

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Não pegou bem entre as instituições de Roma a tentativa da Conferência Episcopal Italiana (CEI) e de seu presidente e arcebispo de Gênova, Angelo Bagnasco, de tentar interferir nos debates sobre o projeto de lei que autoriza no país a união civil entre pessoas do mesmo sexo e a "stepchild adoption" ("adoção de enteados") para casais gays.    

Na última quinta-feira (11), o cardeal havia expressado seu desejo de que "a liberdade de consciência sobre temas fundamentais para a vida e a sociedade e das pessoas fosse não apenas respeitada, mas promovida com uma votação em escrutínio secreto". Um dia depois, a resposta chegou de quase todas as principais instituições da Itália.    

"Sobre o voto secreto decide o Parlamento - e digo isso com estima pelo cardeal Bagnasco -, e não a CEI. Me agrada a ideia de que um parlamentar responda pelo voto que dá e o explique", afirmou o primeiro-ministro Matteo Renzi. A mesma posição foi adotada pelo presidente do Senado Pietro Grasso, que disse respeitar todas as opiniões, mas ressaltou que é prerrogativa das instituições republicanas deliberar sobre seus procedimentos internos.    

Já a chefe da Câmara dos Deputados Laura Boldrini acrescentou que "ninguém mais" pode decidir sobre o regulamento do Congresso, a não ser os seus líderes. "É uma matéria técnica, regulamentar, que diz respeito aos presidentes. Acho que qualquer sugestão sobre o assunto não é pertinente", ressaltou.    

Por outro lado, o ministro do Interior Angelino Alfano, contrário à "adoção de enteados", saiu em defesa do cardeal e salientou que suas palavras provocaram "reações exageradas".    

"Bagnasco se limitou a defender a liberdade de consciência, da qual o voto secreto é um instrumento", disse.    

A controvérsia - O projeto que autoriza a união civil entre pessoas do mesmo sexo está atualmente em discussão no Senado e prevê o aumento dos direitos dos casais homossexuais, equiparando-os aos do casamento, embora este continue reservado a pares formados por um homem e uma mulher.    

No entanto, o ponto mais discutido da chamada "Lei Cirinnà" - em referência à sua autora, a senadora Monica Cirinnà - estende a "stepchild adoption" para os gays. Com isso, homossexuais poderão registrar os filhos de seus parceiros, mas apenas na ausência do outro pai biológico - a adoção por casais de pessoas do mesmo sexo continuaria proibida.    

Esse item enfrenta forte resistência no Parlamento, até mesmo dentro da própria base aliada de Renzi, um primeiro-ministro de centro-esquerda apoiado por algumas pequenas legendas de direita. Além disso, a ala católica de sua sigla, o Partido Democrático (PD), é contra a "adoção de enteados".    

Como a maioria do governo no Senado é muito estreita, a votação aberta inibiria votos contrários de congressistas da base aliada. "Essa é uma lei sacrossanta. Que medo podem causar duas pessoas que se amam? Por que o Estado deve impedir-lhes de terem direitos?", disse Renzi a uma rádio local, defendendo o projeto.    

Ainda assim, ele não é tão enfático quando fala sobre a "stepchild adoption". "É um ponto delicado, mas me parece fundamental que se respeitem todas as opiniões, se faça uma discussão séria e que depois o Parlamento decida", acrescentou.