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Funeral de italiano morto no Egito reúne 3 mil pessoas

Giulio Regeni foi enterrado em sua cidade natal, Fiumicello

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Mais de 3 mil pessoas participaram nesta sexta-feira (12) do funeral do pesquisador italiano Giulio Regeni, assassinado brutalmente no Egito. Ele foi enterrado em sua cidade natal, Fiumicello, que tem apenas 5 mil habitantes e fica na região setentrional de Friuli-Veneza Giulia.    

O corpo foi velado no ginásio da cidade e depois seguiu em um carro fúnebre até o cemitério, sempre acompanhado pela multidão, que não arredou o pé nem mesmo sob chuva. "Obrigada, Giulio, por ter me ensinado tantas coisas. Fica no meu coração a energia do seu pensamento. Um pensamento para amar, compreender e construir tolerância", diz a mensagem escrita por sua mãe, Paola Regeni, e lida na cerimônia por um jovem.    

Regeni foi encontrado morto no Cairo, capital egípcia, em 3 de fevereiro, após 10 dias desaparecido, com sinais de tortura e nu na parte de baixo. O corpo estava com as orelhas mutiladas, com dezenas de pequenos cortes e sem duas unhas. A autópsia, realizada já em Roma, concluiu que a vítima faleceu por causa da fratura de uma vértebra cervical provocada por um "violento golpe no pescoço". O exame ainda constatou a presença de diversas lesões, embora não tenha identificado sinais de abuso sexual.    

O pesquisador viajara ao Egito para desenvolver uma tese sobre economia, mas também contribuía com o jornal comunista italiano "Il Manifesto". Em seu último artigo, publicado após sua morte, ele acusa o presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, de obter o controle do Parlamento com o "maior número de policiais e militares da história do país, enquanto o Egito está na parte inferior de todas as classificações mundiais sobre respeito à liberdade de imprensa".    

A matéria também mostra como sindicatos independentes tentam se manter vivos na nação africana, que permite a existência de uma única entidade sindical, a Etuf, fiel a Sisi. Além disso, Regeni diz em seu texto que o presidente assumiu o poder graças a um golpe militar, o mesmo que derrubou Mohamed Morsi, ligado à Irmandade Muçulmana. Antes de morrer, ele pediu para o jornal publicar o artigo sob um pseudônimo.    

Por conta disso, suspeita-se na Itália de crime político, o que poderia abalar as boas relações entre Roma e Cairo. "É um caso dramático, volto a exprimir à família de Giulio as minhas condolências e digo o que falamos aos egípcios: a amizade é um bem precioso, mas só é possível na verdade", declarou o primeiro-ministro Matteo Renzi.    

Já a presidente da Câmara dos Deputados Laura Boldrini afirmou que as autoridades do país africano têm sido "no mínimo contraditórias" sobre as investigações envolvendo a morte de Regeni. "Não gostaria que, com o pretexto da luta contra o terrorismo e o Estado Islâmico, tudo seja permitido", disse.