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Cientistas eslovenos provam pela primeira vez relação entre Zika e microcefalia

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Um grupo de pesquisadores eslovenos anunciou hoje (11) ter conseguido provar, pela primeira vez, a relação entre o vírus Zika e a microcefalia ao investigar o caso de uma grávida eslovena que foi infectada durante uma estada no Brasil.

Mara Popovic, do Instituto de Patologia da Faculdade de Medicina de Liubliana, anunciou nesta quinta-feira em conferência de imprensa na capital eslovena, que o vírus foi encontrado nos neurônios do cérebro do embrião da mulher, contagiada no início da gestação.

A descoberta demonstra que o Zika ataca sobretudo as células nervosas do feto, segundo Mara, e confirmam-se as fortes suspeitas dos especialistas sobre a relação da microcefalia com o vírus.

Os últimos dados das autoridades sanitárias do Brasil, um dos países mais afetados, com entre 440 mil e 1,3 milhão de infeções pelo Zika, apontam para um considerável aumento do número de recém-nascidos com microcefalia na Região Nordeste do país.

O governo brasileiro declarou, no ano passado, um alerta sanitário depois do aumento de casos de microcefalia em bebés recém-nascidos, devido à suspeita de poderem estar associados ao vírus, o que agora se comprovou.

Tatjana Avsic Zupanc, do Instituto de Microbiologia e Imunologia, indicou que o feto pode ser contagiado com o vírus em qualquer fase da gestação, mas que os danos mais graves ocorrem no primeiro trimestre da gravidez, noticiou a agência eslovena STA.

Os pesquisadores eslovenos garantem ter comprovado que os danos no sistema nervoso central, relacionados com o contágio durante a gestação, são consequência da reprodução do vírus no cérebro do feto.

A investigação que prova que o vírus pode passar da mãe infetada para o cérebro do feto e causar microcefalia foi publicada na revista médica The New England Journal of Medicine.

No último trimestre da gravidez da gestante eslovena, em outubro passado, foram detetadas por ecografia muitas irregularidades no desenvolvimento do feto e da placenta, quando começaram as investigações, embora então não houvesse ainda qualquer suspeita de que se tratasse do Zika.

Devido aos maus prognósticos e aos graves danos no cérebro do feto, a mulher decidiu interromper a gravidez.

A autópsia e as investigações posteriores confirmaram que os problemas no desenvolvimento do cérebro do feto se deviam à infeção pelo vírus, com o qual a grávida tinha sido contagiada e que tinha transmitido ao embrião por meio da placenta.

Um representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Liubliana, Marijan Ivanusa, confirmou que a investigação representa “uma peça excecionalmente importante no quebra-cabeça para provar que o vírus Zika realmente pode causar microcefalia”.

Contudo, segundo o responsável da OMS, a investigação não representa algo “dramaticamente novo”, pois não existem medicamentos nem vacinas contra o Zika e a única coisa que resta é recomendar a proteção contra o mosquito Aedes aegypti.

“A dificuldade é que é impossível recomendar a milhões de mulheres nas regiões em que o Zika está mais presente que não engravidem. É importante que as mulheres dessas regiões se defendam dos mosquitos e se protejam das suas picadelas e que os médicos monitorem as mulheres em gestação [para verificar] se os fetos estão se desenvolvendo normalmente”, disse.