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Cuba ainda espera fim de embargo, diz frei Betto

Havana e Washington anunciaram retomada de relações há 1 ano

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De forma inesperada, os governos de Cuba e Estados Unidos anunciaram a retomada de relações bilaterais há cerca de um ano, em 17 de dezembro de 2014. Muitas coisas mudaram desde então, muito passos históricos foram tomados na direção da reaproximação. Uma das principais mudanças ainda não foi feita, no entanto, o fim do embargo econômico. A medida é uma das bandeiras do presidente norte-americano Barack Obama, mas depende do Congresso -- que tem maioria republicana - para ser aprovada.

Consultado pela ANSA, o brasileiro frei Betto, amigo de Fidel Castro e autor do livro "Paraíso perdido - viagens ao mundo socialista", compartilhou suas impressões sobre as mudanças em curso na ilha. ANSA - O senhor sentiu alguma mudança em Cuba desde 17 de dezembro do ano passado? Frei Betto - Após dezembro de 2014 estive em Cuba quatro vezes, uma delas por ocasião da visita do papa Francisco [em setembro].

De mudanças, a bandeira dos EUA erguida no Malecon [bairro turístico de Havana] e a expectativa dos cubanos quanto aos efeitos do reatamento com o país vizinho. Há mais cidadãos norte-americanos visitando Cuba, embora ainda perdure o bloqueio e as restrições de viagens por parte da Casa Branca aos cidadãos dos EUA. Este exemplo diz tudo: um casal dos EUA que queira fazer turismo na Coreia do Norte ou no Irã não encontrará nenhuma dificuldade ao buscar uma agência de viagens em Nova York. Porém, se o destino for Cuba, tudo é difícil, devido ao bloqueio. Essa é uma situação no mínimo esdrúxula.

ANSA- Fidel comentou algo com o senhor sobre o processo da retomada? FB- Sim, que Obama mudou seus métodos mas ainda precisa deixar claro que mudou também seus objetivos. Cuba espera que os EUA suspendam o bloqueio e devolvam a base naval de Guantánamo, bem como repare financeiramente os danos causados à ilha por décadas de bloqueio.

ANSA - Quais são suas impressões sobre o futuro de Cuba? Como o senhor acredita que o processo de retomada deve afetar a ilha? FB - Penso que, suspenso o bloqueio e liberadas as viagens, será o encontro do tsunami consumista com a austeridade cubana. Cuba se prepara para evitar que esse choque desvirtue o socialismo e as conquistas da Revolução [de 1959]. Nem os bispos católicos de Cuba têm, hoje, interesse que o país volte ao capitalismo.Não querem para o futuro de Cuba o presente de Honduras ou do Panamá.

Avanços - Desde a retomada de relações, diversas restrições vêm sendo estudadas e muitos passos têm sido dados em direção a uma reaproximação. Em julho deste ano, as respectivas embaixadas foram reabertas. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, visitou a ilha no mês seguinte, sendo o primeiro líder diplomático do país a viajar a Cuba desde 1945. Na semana passada, Cuba e Estados Unidos anunciaram a retomada de trocas postais após um hiato de 52 anos e ontem os países informaram que chegaram a um acordo para restaurar voos comerciais, sem anunciar data que em rota será restabelecida. Em outras questões, no entanto, como o status dos dissidentes e o respeito aos direitos humanos em Cuba, as negociações continuam travadas.