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Jornalista que revelou segredos da Camorra diz que máfia italiana e colombiana são unidas

Jornalista destacou que vínculos foram criados há 50 anos

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Roberto Saviano, o jornalista italiano que revelou os segredos do grupo mafioso Camorra, assegurou neste domingo (02) que os vínculos entre a máfia de seu país e a que existe na Colômbia têm mais de 50 anos de história. Em entrevista à revista "Semana", o escritor afirmou que esses vínculos nunca foram quebrados, mesmo com o passar dos anos.

    Questionado pelo periódico se a máfia colombiana e italiana são unidas, ele não titubeou e disse um "sim" com firmeza.

    "Sim. A relação entre Colômbia e Itália tem 50 anos e por ela sobrevive a criminalidade colombiana. Não é por acaso que muitos italianos se refugiam na Colômbia. As Farc, mesmo sem nunca ter tido uma relação direta com a máfia italiana, se beneficiaram dela", destacou o jornalista.

    As autoridades locais já disseram em várias ocasiões que as conexões entre ambos os grupos são de longa data, incluindo as épocas de esplendor do cartel de Medellín, sob o comando de Pablo Escobar. Precisamente, no ano passado, Roberto Pannunzi foi preso em Bogotá. Ele era um dos líderes da 'Ndrangheta - a máfia da Calábria - e era considerado um dos homens que estabeleceu os contatos entre Escobar e os mafiosos de seu país para poder levar cocaína até a Europa. Esta foi a segunda prisão de Pannunzi no país. A primeira ocorreu em Medellín em 1994.

    Apenas em 2014, as autoridades detiveram diversos mafiosos em várias cidades do país sul-americano que realizavam uma atividade similar a Pannunzi. Homens como Iacomino Tomasso, Domenico Trimboli e Santo Scipione foram presos e entregues à Justiça italiana. Saviano sustenta que quem, realmente, estabeleceu as conexões entre a 'Ndrangheta e os traficantes colombianos foi o ex-chefe paramilitar Salvatore Mancuso. "Ele é filho de uma família de Sapri, uma cidade que fica em uma região disputada pela Camorra e pela 'Ndrangheta e foi o primeiro colombiano que estabeleceu vínculo com esta última máfia", destacou.

    Para ele, as "AUC [Autodefesa Unida da Colômbia] vendiam drogas para pessoas na Calábria mediante compromissos de palavra. Não era necessário pagar antecipadamente. Os italianos e as AUC tinham uma relação mais familiar que de negócios".

    Saviano falou deste e de outros temas também em seu último livro "ZeroZeroZero", uma denúncia sobre o tráfico mundial de cocaína. Sobre a nova publicação, o autor de "Gomorra" afirmou que mesmo com as restrições de segurança, ele conseguiu viajar para vários lugares do mundo onde fez centenas de entrevistas e obteve documentação que o permitiram entender que o tráfico de cocaína é um assunto global que permite compreender o mundo contemporâneo.

    "A estrutura da máfia e do narco-capitalismo não podem ser contados apenas através da Itália e seus pontos na Colômbia.

    Investigar globalmente significa poder encontrar a prova de que este não é um problema local de Bogotá, de Caracas, de Nápoles ou de Ciudad Juárez, mas sim do planeta", disse.

    Ao que parece, com sua nova publicação, Saviano vai de novo contra a corrente de que as drogas sintéticas parecem ter destronado a cocaína e outras substâncias elaboradas a partir das plantas.

    "O que distingue a cocaína das drogas sintéticas é que a primeira te deixa funcionar. As sintéticas não te deixam viciado na vida como faz a cocaína. A coca é a droga rainha", destacou.

    Ele ainda afirmou que, até hoje, nunca provou nenhuma substância alucinógena por razões que vão desde a proibição de consumo que seus pais impuseram na adolescência - por medo da máfia - até para não trair a si mesmo, já que é um crítico de tudo o que envolve o mundo dos mafiosos. (ANSA)