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'El País': Países da AL acompanham com preocupação acusações contra Odebrecht

Obras importantes são realizadas em países como Colômbia, Venezuela, Peru e Panamá 

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O jornal espanhol El País publicou nesta quarta-feira (29/07) um artigo de Javier Lafuente avalia a influencia que a operação Lava Jato pode ter em países da América Latina. 

“A prisão no último dia 19 de junho no Brasil de Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira da América Latina por sua vinculação no caso Petrobras, não só atingiu o gigante sul-americano. Vários países da região, entre eles a Colômbia, Venezuela, Peru ou Panamá acompanham com preocupação o desenrolar dos processos e avaliam as consequências que uma condenação à Odebrecht implicaria. Seus tentáculos se estendem pelas obras mais importantes da América do Sul.

O primeiro a reagir, naquela sexta-feira de junho, foi o vice-presidente da Colômbia. Germán Vargas Llera assegurou que “qualquer condenação internacional em matéria de suborno” inviabilizaria as contratações e a execução das obras da construtora no país andino durante 20 anos. O assunto não é fútil. A Odebrecht, sétima construtora na Colômbia com receitas de 150 milhões de dólares, é responsável por cinco obras, duas delas entre as mais importantes que estão sendo executadas no país: a navegabilidade do rio Magdalena, entre Barranquilla e Puerto Salgar, que incluiria 908 quilômetros de rio e a construção de um setor da rota do Sol, que já avançou 40%. Para ambos os projetos estão orçados 6,1 bilhões de pesos, algo mais do que 2,2 bilhões de dólares.

Além disso, a concessão de três licitações almejadas pela construtora poderia se complicar: a construção da Transmilenio Boyacá, a adequação de uma estrada entre Bogotá e Girardot e a recuperação do rio Bogotá. Os três projetos chegariam a mais de 2,7 bilhões de dólares.

No caso da Venezuela, a relação com a Odebrecht vem de longe. Desde que iniciou algumas obras no estado de Zulia há 23 anos, a companhia, que hoje garante contar com 12.000 funcionários no país, tem crescido, informa Ewald Scharfenberg. O chavismo confiou seus mais importantes projetos de infra-estrutura à Odebrecht, em parte pela influência do Brasil como parceiro político de Caracas na região, mas também porque Chávez sempre desconfiou dos empresários venezuelanos e preferiu favorecer os estrangeiros. Com frequência, o falecido presidente mencionava os brasileiros como modelo de empresários de um desenvolvimento nacional autônomo.

Conforme indicava a ONG Transparencia Venezuela no último mês de maio, a cargo da Odebrecht estão atualmente os seguintes projetos: a ponte Nigale a segunda ponte sobre o lago de Maracaibo; a linha 5 do metrô de Caracas; a ponte de Mercosul ou terceira ponte sobre o rio Orinoco; o metrô entre Caracas e Guatira e o metrô Caracas-Los Teques. Todos os projetos estão em marcha e têm em comum um atraso em relação aos planos e sobrepreços no que se refere aos cálculos iniciais. As obras em progresso tinham orçamentos que juntos somavam 5 bilhões de dólares.

Enquanto que no Equador começaram as auditorias a contratos da Odebrecht, na última semana o procurador geral do Peru, Pablo Sánchez, garantiu que uma delegação de promotores do país andino se deslocará ao Brasil para realizar uma série de investigações e recolher dados sobre possíveis concessões ilícitas. O foco é centrado em supostos subornos de diretores da Odebrecht para que se inflasse o custo de uma estrada que une a Amazônia brasileira aos portos do Pacífico peruano e que foi construída entre 2005 e 2011, nos governos de Alejandro Toledo e Alan García. A relação entre García e Odebrecht está marcada pelo Cristo do Pacífico, uma réplica do Corcovado do Rio de Janeiro avaliada em 830.000 dólares que foi doada pela Associação Odebrecht. A empresa garante que a doação foi feita ao país, não ao presidente, e defende que foi feita através de um ato público e com conhecimento das autoridades.

A Odebrecht desenvolveu há 35 anos vários projetos no Peru, onde conta com 15.000 trabalhadores,  99% deles são peruanos. Segundo dados da construtora, os projetos em que participou propiciaram, nos últimos 10 anos, 13,257 bilhões de investimento privado e concessões por um equivalente a 1,819 milhões de dólares de investimento público.

O lugar onde os interesses da Odebrecht parecem estar a salvo é o Panamá. Na última sexta-feira, a construtora brasileira assinou o contrato com o qual liderará o consórcio encarregado de construir a segunda linha de metrô da capital panamenha, por um valor de 1.857 bilhões de dólares. A licitação foi outorgada no dia 20 de maio e, junto com a brasileira também participará a empresa espanhola Fomento, Contratas e Construcciones (FCC).