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'NYT': Visita do Papa à AL vai testar sua habilidade de manter união de católicos

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O jornal americano The New York Times publicou neste sábado (05/07) um artigo de William Neuman sobre a visita que o Papa Francisco fará a três países da América do Sul: Bolívia, Equador e Paraguai, num esforço da Igreja para se consolidar no continente. 

“O Papa Francisco surpreendeu com posições ousadas sobre mudança climática e desigualdade de renda. Ele ajudou a mediar um histórico degelo entre os Estados Unidos e Cuba. Ele sacudiu uma pesada marca da Igreja Católica Romana. Mas para todas suas incursões na diplomacia internacional e destreza na construção de sua imagem, sua viagem à América Latina, que começa neste domingo (05/07), vai testar sua habilidade no que pode ser uma tarefa muito mais difícil: colocar paroquianos nos bancos e mantê-los lá”, diz o artigo.

“Quando Francisco foi nomeado Papa em março de 2013, se tornando o primeiro pontífice da América Latina, ele foi saudado por muitos como sendo o tipo de figura que há muito tempo era necessária na Igreja Católica para que ela tivesse apelo junto a sua base em países mais pobres.

A escolha de seu nome assinalou o quão vital é o mundo em desenvolvimento para o future da Igreja e ofereceu um caminho para reverter sua erosão na América Latina, uma região que reúne quase 40% dos católicos do mundo mas tem experimentado um aumento constante no secularismo e ramificações concorrentes do cristianismo”, prossegue Neuman.

“No mínimo, a mudança de tom — feita por um Papa que defende os pobres e evita muitos dos luxuosos adornos de seu gabinete, e até posa para selfies com seguidores — tem elevado as esperanças de muitos fiéis.

Mas se a mudança da imagem no topo da Igreja vai ser seguida por resultados no chão continua sendo uma questão na região.

Na capital do Equador, onde o Papa vai iniciar sua visita à América Latina, o Arcebispo Fausto Trávez reconheceu uma preocupação com o que chamou de declínio da Igreja nas últimas décadas, incluindo um número cada vez menor de padres”.

O jornalista lembra que cada vez mais pessoas que cresceram como católicas dizem que não são mais filiadas a qualquer igreja, especialmente em países como Uruguai, Chile e Argentina.

A Igreja também foi abalada por revelações de abuso sexual de crianças por padres. Francisco já falou enfaticamente sobre o tema, e ele aprovou recentemente a criação de um tribunal para julgar bispos acusados de acobertar ou ignorar casos de abuso sexual. Mas no Chile, ele foi fortemente criticado por nomear bispo um padre que tinha ligações próximas com um clérigo no centro de um escândalo notório de abuso sexual.

O Paraguai registrou a maior porcentagem de adultos que se identificam como católicos, em 89%. E tanto o Paraguai e o Equador possuem uma porcentagem relativamente alta de católicos que dizem que praticam uma forma “carismática” de catolicismo — que às vezes inclui dar pulos e erguer as mãos durante as cerimônias, ou falar em línguas — um fenômeno que tem se desenvolvido nos últimos anos em resposta ao crescimento do Pentecostalismo.

Os três países estão entre os mais pobres e menores da América do Sul, fazendo com que a visita do Papa mantenha seu foco em ajudar o pobre e ministrar para aqueles na periferia. E todos os três, particularmente a Bolívia, possuem grandes populações indígenas, que a Igreja está perdendo.

“Se há um setor da sociedade latino-americana que mais abandonou a Igreja Católica, foi a população indígena,” afirma o professor Andrew Chesnut, da Virginia Commonwealth University. 

Ele disse que as igrejas pentecostais têm sido rápidas em empregar pastores indígenas em países como Guatemala e Bolívia, “enquanto, por outro lado, é possível contar, em vários desses países, o número de padres católicos indígenas em duas mãos.”

O Papa vai comandar uma série de missas que deverão reunir centenas de milhares de fiéis, e algumas vão incluir textos em línguas indígenas.

Ainda assim, o espaço é difícil de preencher. O Arcebispo Trávez disse que apesar de alguns seminaristas em sua arquidiocese terem vindo de famílias indígenas, nenhum deles fala suas línguas nativas.

Quanto à visita do Papa Francisco, o Arcebispo Trávez afirmou, “Eu acredito que há muitas pessoas que perceberam que o Papa está vindo para recuperar as ovelhas perdidas.”