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'ABC Color': Iscas, armadilhas e sócios do chavismo

Maduro e seu governo já estão em campanha, e utilizam todo o poder do Estado, diz jornal paraguaio

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O jornal paraguaio ABC Color publicou nesta quinta-feira (02/07) um artigo de Danilo Arbilla sobre a situação política venezuelana, num momento em que o pleito do final do ano se aproxima.  

“Com títulos que iam desde “Triunfo da dignidade na Venezuela” (La Razón) a “Respiro na Venezuela” (El País), a imprensa espanhola destacou e festejou o anúncio de eleições legislativas nesse país para o dia 6 de dezembro. O fato foi qualificado quase de forma unânime como triunfo da oposição e muito em especial do líder opositor Leopoldo López, que está preso, e como derrota para Nicolás Maduro, que quase não gosta de eleições, e nas atuais circunstâncias, gosta muito menos. 

Sem dúvida a firmeza e o sacrifício de López, que fez greve de fome durante 30 dias, suspensa depois do anúncio das eleições, foi um fato decisivo para o chamado a eleições.Agora, falar de derrota de Maduro talvez seja demais.

A conduta de López e seus seguidores, mais do que em Maduro, pesou para os padrinhos do chavismo, nem sempre declarados, mas notórios.

Maduro não era seduzido pela coisa de se expor, logo agora, ao julgamento de seus concidadãos. Para ele, era mais fácil manter as coisas do jeito que estão – com censura da imprensa, repressão, tortura e prisões de dissidentes sociais e opositores políticos –, e esperar tempos melhores. O medo de voltar ao chão leva a qualquer extremo.

Mas o eventual preço a pagar – a morte de López ou qualquer opositor – era muito alto para quem até agora apoiou direta e expressamente Maduro e seu regime, como a Unasul, Brasil, Cristina Kirchner e para quem de fato o acompanhou com a inoperância, como a OEA, ou o silêncio, como o papa Francisco.

Era um custo alto que ninguém queria assumir, e assim o fizeram sentir a Maduro e outros representantes do regime que no final tiveram que ceder.

Pode-se dizer que Maduro perdeu uma batalha; mas está disposto a ganhar a guerra. Como seja.

Em matéria de eleições, “o chavismo” tem uma vasta experiência e até agora tem se conduzido como um peixe na água, utilizando iscas e armadilhas de todo tipo, o que também lhe rendeu os aplausos, os elogios, o destaque, e em alguns casos, os silêncios amigos.

Já ao fixar a data, armou a primeira e pequena armadilha: nesse mesmo dia de 1998, Chávez foi eleito pela primeira vez presidente da Venezuela. Com essa data pretende chegar aos sentimentos de muitos venezuelanos que são contra Maduro mas veneram Chávez.

Também, como na época de Chávez, feito o anúncio eleitoral começaram as ameaças: se o governo perder, depois vem o dilúvio. Em seu momento, o próprio ministro de defesa de Chávez chegou a por em dúvida a entrega do poder se o líder bolivariano perdesse as eleições.

As regras são claras: será uma campanha curta, de um mês, e cara, já que os partidos não contam com financiamento oficial. Mas na prática só isso afeta a oposição.

Maduro e todo o governo já estão em campanha, e nela utilizam todo o poder e os recursos do Estado. Novamente se colocam em marcha subsídios que estavam de certa forma abandonados – as ‘misiones bolivarianas’ -, não haverá limites no gasto, a maioria dos meios de comunicação sob o  poder ou submetidos ao governo, pressões sobre as empresas que possam apoiar a oposição e ameaças aos funcionários, só para começar. Podem chegar a mais.

Tudo isso, é claro, sem observadores internacionais, tirando o acompanhamento de representantes da Unasul. Estes foram convidados por Maduro e o fizeram com prazer, dadas suas atuações anteriores. Isso sim, nada de observadores da OEA, a UE ou a ONU.

Tem sido, sem dúvida, uma conquista importante obrigar Maduro a convocar as legislativas, mas como se vê, falta muito ainda e o caminho é empedrado.

Sem observadores de verdade que controlem todo o processo prévio além do ato eleitoral em si e o posterior escrutínio – algo que deveriam exigir as organizações internacionais – é difícil falar de eleições livres e democráticas. 

E isso, ainda que contem com o aval da Unasul ou, eventualmente, “sejam abençoadas”.