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Haiti: general brasileiro da Tropa de Paz desconhece relatório sobre assédio sexual

José Luiz Jaborandy diz que, se houve desvio de conduta, envolvidos serão punidos

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Após o vazamento de relatório relativo a uma auditoria feita por uma agência associada à Organização das Nações Unidas (ONU), acusando Tropas de Paz no Haiti de trocar assistência por sexo, o general José Luiz Jaborandy Jr, do comando brasileiro no país, afirma desconhecer a pesquisa e se houve desvio de conduta e desobediência às normas do organismo os envolvidos serão punidos e podem perder o direito de participar de novas missões. O general lamenta a divulgação preliminar do estudo e acredita que o fato pode arranhar o trabalho "exemplar" e de "solidariedade internacional" mantido há 11 anos.    

"Tomamos conhecimento [do relatório] pelas agências internacionais de notícias", disse o general em entrevista nesta quinta (11) ao Jornal do Brasil. Jaborandy afirma que tomou conhecimento que a auditoria foi realizada por uma companhia de investigação independente e credenciada à ONU, chamada OIOS (Office of Internal Oversight Services), que atua em todos os níveis do sistema do organismo, e que a data de divulgação oficial do material seria 16 de junho. "Nós, da missão, não tivemos acesso a este relatório, não sabemos exatamente a que ele refere", garante o general, acrescentando que ouviu pela imprensa que a pesquisa é referente ao período de 2008 a 2013.

Jaborandy Jr ressaltou que a ONU desenvolveu um programa chamado "Tolerância Zero", que é aplicado a todos os setores da ONU que estão realizando missão de paz ao redor do mundo. Ele explica que estas missões são compostas por três setores: militar, policial e civil. "O relatório se refere a todos os componentes, não somente ao componente militar. Infelizmente, todas as vezes que tratam deste assunto eles se referem às tropas militares e também quando colocam fotografia associadas aos artigos, mostram militares com capacetes azuis. E mais uma vez infelizmente, neste caso, colocaram fotos do contingente brasileiro", destacou.

As Tropas de Paz são compostas por voluntários das mais diversas nacionalidades, sendo que 16 países participam atualmente da missão de solidariedade internacional, nos três setores distintos. "Fundamental destacar que todos os componentes de tropas, de todas as nacionalidades, levamos muito a sério o programa de Tolerância Zero", enfatiza o general. "Nos meus 14 meses de comando, assumi uma postura extremamente agressiva no sentido de evitar que isso [suspeita de assédio sexual] aconteça envolvendo qualquer integrante do meu componente. Tivermos zero caso de alegação de abuso sexual, de qualquer natureza. Nós não admitimos isso, não aceitamos e repudiamos, seja com homens, mulheres, meninos ou meninas. Proibimos o relacionamento, seja ele consentido ou não com população local por parte do componente da tropa que tenho o privilégio de comandar", conta Jaborandy Jr.

O oficial pretende ter acesso ao relatório o mais rápido possível, para conhecer os detalhes como o período referente aos supostos crimes e o público alvo. Atualmente, as Tropas de Paz são mantidas por três mil homens e mulheres no efetivo militar, contra 2.300 no setor policial e o departamento civil é englobado por agências associadas à ONU, número de componentes variante. 

Na avaliação de Jaborandy Jr, a divulgação do relatório da forma que aconteceu pode arranhar a imagem da tropa brasileira no mundo em missão tão importante e nobre. "Brasileiros, bolivianos, uruguaios, chilenos, salvadorenhos, hondurenhos, argentinos, o pessoal do Sri Lanka, Peru, todos vêm para cá aceitando um desafio pessoal, ajudar a população do Haiti, trabalhar para o seu país, pelo menos, neste meu tempo de comando, zero problema neste setor, esse pessoal se sente altamente chateado, digamos assim, constrangido pelo fato de estarem lançando esta informação que ainda nem temos conhecimento. Isso pode causar prejuízo num trabalho realizado há 11 anos por países que contribuem com tropa e exercem a solidariedade internacional. Um trabalho brilhante de apoio ao povo do Haiti encontrar o caminho iluminado na direção do futuro", diz. 

O general ressalta que, se há um desvio de conduta e desobediência às normas da ONU, o envolvido é punido "exemplarmente" e até perde o direito de futuramente participar de outras missões. Ele conta que os componentes militares sempre trabalham em conjunto com as agências de investigação para evitar esses tipos de delitos.

A missão de Paz foi implantada no Haiti no dia primeiro de junho de 2004, a partir da iniciativa de apoio internacional, o país tem dado passos positivo em direção o futuro, apesar de lentos. Na última resolução da ONU, em outubro de 2014, foi decidido pela diminuição da presença internacional no Haiti, que até então era de 5.021 indivíduos, devendo passar para apenas 2.370 até o final deste mês, de acordo com o calendário oficial de atividades. Setecentos voluntários já foram desmobilizados e estão aguardando repatriação.  

A Tropa brasileira no país não atua apenas na segurança militar, mas também apoia iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade de vida, em parceria com a Polícia Nacional do Haiti. Demais setores, como o amadurecimento institucional, político, manutenção do estado de direito, da lei da ordem do pais, são mantidos por outros setores da missão. 

Hoje em dia, o país ainda sofre com uma infraestrutura urbana e social precária. "Está se desenvolvendo de maneira lenta, mas a população ainda se recente de uma infraestrutura adequada, de geração de energia, distribuição de água, saneamento, coleta de lixo, moradia, escola...", destaca o general Jaborandy Jr.