ASSINE
search button

'The Guardian': Eleição britânica pode significar a morte da união 

'Que assim seja', diz jornalista, se referindo à separação reivindicada pelos separatistas escoceses

Compartilhar

O jornal inglês The Guardian publicou nesta quarta-feira (06/05) um artigo de Simon Jenkins sobre as eleições gerais desta quinta-feira. O pleito, que opõe o candidato conservador (e atual primeiro-ministro) David Cameron e o trabalhista Ed Miliband pode influir na permanência ou não da Grã-Bretanha na União Européia e da Escócia no Reino Unido. 

“Não há uma questão de legitimidade na eleição marcadas para esta quinta-feira. Um governo que ganha um voto de confiança  na Câmara dos Comuns é legítimo. Ponto. Pode haver questões de fidelidade partidária, longevidade e consentimento popular, mas são subsidiárias. A Grã-Bretanha não é uma democracia direta mas parlamentar. Eleitores entregam sua soberania aos MPs (membros do parlamento) até a próxima eleição. Bom, ruim, sensato ou estúpido, essa é a regra. Ninguém sabe quem será capaz de ganhar a confiança de uma maioria da Casa até sexta-feira, se tanto. Isso é tudo que conta – constitucionalmente”, escreve Jenkins.

Ainda assim a legitimidade de um futuro governo está sendo questionado em todos os lados desde então, no caso do Partido Trabalhista, pode depender dos votos dos escoceses nacionalistas. Os trabalhistas têm dependido no passado  dos MPs escoceses para obter uma maioria na Casa de Comuns, mas esta vez esses MPs não são trabalhistas mas nacionalistas, com compromisso de romper a união. Então em que ponto fica a legitimidade constitucional?

A resposta está no mesmo lugar. Se a união é uma união, não uma confederação, de nada importa onde em suas fronteiras que a maioria é obtida. O primeiro-ministro trabalhista James Callaghan nos anos 1970 percorreu todos os caminhos e atalhos da Ulster para obter votos, assim como David Cameron depois de sexta-feira. É uma pena que os eleitores ingleses não tiveram a chance de votar em candidatos do SNP (o Scottish National Party). Nesta eleição eles são eleitores do Reino Unido. Se o conservador Miliband escolhe sobreviver no cargo em troca de um governo local escocês, então que assim seja. O acordo de Gladstone com Parnell deu o mesmo poder aos irlandeses.

Uma questão bastante diferente é a do consenso. Nenhum governo nos tempos modernos desfrutou de um consenso da maioria do eleitorado, nem sequer do povo britânico. No caso da Escócia, deve ser claro agora que o atual formato da união está morrendo. Um bloqueio separatista no parlamento de Londres pode ser legítimo mas não será visto como justo, ou sensato na Inglaterra. Qualquer governo que administre com essa base vai sofrer a indubitável raiva dos ingleses, se não até mesmo dos eleitores galeses e irlandeses. Algo tem que mudar.

O destino de duas uniões – com a Escócia e com a Europa – será a gigantesca preocupação do novo parlamento. A Escócia pode ser simplesmente descartada. Os escoceses parecem cansados dos ingleses, e os ingleses dos escoceses. Nenhuma quantia de subsídio, alarmismo econômico ou falsa emoção é capaz de superar essa mensagem que vem do norte da fronteira.

"É exigido algum formato novo que tenha que abranger a falta de comprometimento no parlamento. A tarefa para Cameron ou Miliband é a de ser o arquiteto desse formato. Uma esmagadora presença do SNP em Westminster deveria pelo menos tornar mais fácil, não mais complicado de conseguir alcançar esse objetivo", conclui o artigo do jornal The Guardian.