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'FT': Crescimento da extrema-direita na França mantêm estatismo vivo

Front National promove um governo que faz o Syriza parecer um partido de centro-direita

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Manuel Valls continua repetindo seu temor de que a França pode “cair nas mãos da Frente Nacional” (FN). O partido anti-União Europeia, anti-imigração conseguiu 25% dos votos nas recentes eleições regionais, confirmando-se como uma das grandes forças políticas. Mas o primeiro-ministro francês, ao denunciar como muitos fizeram antes dele o “racismo” da FN, está perdendo de vista a verdadeira natureza da ameaça. É o que diz uma matéria de Gaspard Koening, do jornal britânico Financial Times, publicada nesta segunda-feira (13/04).

Com Marine Le Pen, a FN se transformou. O tom de preconceito racial foi suavizado. A recente briga de família, em que ela convocou seu pai (e fundador do partido) a um processo disciplinar devido à sua última provocação xenófoba, só mostra os esforços da FN para adotar valores republicanos.

De fato, a FN evoluiu de um grupo de protesto da extrema-direita para um partido nacional-socialista não menos nocivo. Agora, o partido apresenta uma agenda econômica consistentemente estatizante, esboçados com os resultados obtidos por especialistas de escolas de elite, como seu jovem vice-presidente Florian Philippot. 

Essa agenda implica em nacionalizar a maior parte dos serviços públicos e até mesmo bancos para construir monopólios estatais, aproveitando taxas de poupança das famílias para pagar a dívida pública, dando fortes subsídios ao setor industrial, regulando preços de bens “estratégicos” e serviços, aumentando o número de servidores públicos, erguendo barreiras tarifárias para proteger empresas francesas do comércio internacional, e estabelecer controles de capital depois que o país deixar a zona do euro. A semana de 35 horas seria preservada, o salário mínimo aumentado e a idade de aposentadoria reduzida. Esse programa tão atraente seria implementado por um “comitê de planejamento” diretamente ligado ao gabinete do primeiro ministro.

Como demonstrou Friedrich Hayek, um planejamento centralizado e o totalitarismo estão inerentemente ligados. A terrível agenda da FN está realmente enraizada na ideologia do regime de Vichy, que no início dos anos 1940 construiu as estruturas de um estado “planejador”. O marechal Philippe Pétain, a principal figura da colaboração francesa que liderou o governo de Vichy, condenou o que chamou de delírios do livre mercado — exatamente como o FN faz hoje. Esse é o período que deu à França sua flácida burocracia assim como corporações profissionais ocupadas em manter seus privilégios, enquanto implanta um controle estatal paternalista do comportamento individual. Robert Paxton, um historiador da França de Vichy, conclui que Vichy inaugurou a “marcha do estatismo” no país, que continua até hoje.

A FN se baseia nessa herança ao promover um governo de comando e controle que faz o Syriza da Grécia parecer um animal dócil de centro-direita. Ele também coloca os outros partidos em uma posição estranha. Todos eles têm uma versão diluída da planificação: na esquerda, “o protecionismo econômico” voltou à moda; na direita, o “Gaulismo”, com seu toque de dirigismo, nunca foi tão popular. Ao se inclinarem para a FN, eleitores dos dois terrenos enxergam uma forma mais radical de intervenção estatal, que a maior parte do establishment francês há muito tempo exalta como uma solução para tudo.

Não precisa ser assim, principalmente na França. A revolução francesa tinha raízes em ideias liberais, inspiradas em filósofos do liberalismo. Na época, retirar privilégios políticos andavam lado a lado com o enfrentamento do arrendamento econômico. A competição era vista como uma ferramenta de justiça e igualdade. O estado revolucionário foi pensado para emancipar cidadãos de suas filiações culturais, econômicas e sociais. O historiador Pierre Rosanvallon nomeou isso “Jacobinismo liberal”, uma filosofia nacional que devemos ressuscitar urgentemente.

"Isso é um projeto para a juventude francesa. Eles sabem que o estado de bem-estar social enriqueceu os mais velhos e levou sua nação à falência. Eles estão ávidos para acolher tecnologias que vão sacudir mercados acomodados. Eles estão confortáveis com a globalização e a diversidade. Agora é o momento de lutar contra o nacional-socialista FN com o valor mais precioso da França: a liberdade", conclui o artigo do Financial Times.